Descrição de chapéu

Didatismo e superficialidade prejudicam relatos sobre dilemas contemporâneos

Longa 'Café' apresenta 3 histórias ambientadas na Bélgica, na Itália e na China

Café [Caffè, Bélgica, China, Itália, 2016], de Cristiano Bortone (California Filmes). Gênero: drama. Elenco: Hichem Yacoubi, Dario Aita, Fangsheng Lu. Classificação: 14 anos
Cena do filme 'Café', de Cristiano Bortone - Divulgação
 
Alexandre Agabiti Fernandez

Café (Caffè)

  • Quando Estréia nesta quinta (2)
  • Classificação 14 anos
  • Elenco Dario Aita, Hichem Yacoubi, Arne de Tremerie, Miriam Dalmazio, Fangsheng Lu, Ennio Fantastichini, Koen De Bouw, Zhuo Tan
  • Produção Itália, Bélgica, China, 2016
  • Direção Cristiano Bortone

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Da planta à xícara, o café funciona como elemento unificador das três histórias contadas por Cristiano Bortone –ambientadas na Bélgica, na Itália e na China. Mas à medida que as narrativas vão avançando em paralelo, emergem outros pontos em comum, para além da tradicional bebida: realidades condicionadas pelo capitalismo selvagem, crises existenciais relacionados à falta de trabalho ou à inexistência de realização no trabalho.

O refugiado iraquiano Hamed tem uma pequena loja em Liège, onde conserva um antigo bule de café de prata, preciosa herança familiar. Durante distúrbios de rua, a loja é saqueada e o bule desaparece. Ele decide ir atrás do ladrão, um pequeno delinquente belga desprezado pelo pai, para recuperar o objeto.

Em Roma, o jovem barista Renzo —apaixonado pelos aromas do café– é demitido e decide ir para Trieste trabalhar em uma empresa de beneficiamento do grão com a esperança de aprimorar sua competência. Mas as coisas tomam um rumo imprevisto.

Na China, Ren Fei é um gerente ambicioso e bem-sucedido que está prestes a se casar com a filha do patrão, um inescrupuloso magnata da indústria química. Um dia é enviado por ele a Yunnan –sua região natal, produtora de café, de onde saiu fugindo da pobreza– para recolocar uma fábrica em funcionamento. O repentino encontro com uma artista local e a constatação de que a fábrica obsoleta e é uma ameaça ambiental o fazem rever suas convicções.

As histórias que se passam na Bélgica e na Itália se valem dos códigos do filme de ação, enquanto o episódio chinês se pretende reflexivo. Mas nenhuma das três consegue avançar na discussão de um vasto leque de dilemas contemporâneos —racismo, violência, imigração, consequências do desenvolvimento industrial desenfreado, entre outros.

Alguns fatores contribuem para esse resultado: os personagens são pouco nuançados, muitas vezes estereotipados, o tom é indisfarçavelmente didático.

O episódio chinês não vai além da oposição entre tradição e modernidade, vista com sentimentalismo; a história italiana tem desdobramentos pouco verossímeis enquanto o episódio belga prefere encarar o conflito étnico pelo prisma da vingança, empobrecendo a questão. Os finais das histórias —cheios de otimismo depois de reviravoltas melodramáticas— diluem ainda mais esse café ralo.

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