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Experiência em aldeias guarani inspira 'Juruá', que estreia no Sesc Pompeia

Novo trabalho da Cia Oito Nova Dança, dirigida por Lu Favoreto, conta com trilha eletroacústica ao vivo

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Katia Calsavara
São Paulo

Desde pequenos, os índios guarani aprendem o ritual do xondaro, mistura de música, dança e treinamentos prepara para o ato de esquivar-se. Essa dinâmica corporal também os ensina a leveza, a encontrar saídas, como fazem os povos guarani que vivem espalhados pelo estado de São Paulo em aldeias na capital e no litoral.

O aspecto da invisibilidade desses indígenas chama a atenção dos artistas da Cia Oito Nova Dança desde 2010, quando começaram a pesquisar junto a antropólogos a ancestralidade do corpo. “Por que a gente não os enxerga? Acho impressionante isso”, afirma Lu Favoretto, diretora-geral de “Juruá”, que estreia nesta quinta (3) no Sesc Pompeia (SP).

O espetáculo finaliza uma trilogia iniciada com “Xapiri Xapiripê” (2012), seguida pela intervenção urbana Esquiva (2016), na qual a companhia realizou 11 performances em diversos pontos de São Paulo, como o vale do Anhangabaú e o Monumento às Bandeiras.

Oito aldeias de São Paulo foram visitadas pelo grupo (Rio Silveira, Ytu, Pyau, Itaendy, Tenonde Porã, Krukutu, Kalipety e Yrexakã), experiência que fortaleceu o desejo dos artistas em levar a experiência ao palco.

“Juruá” é um termo utilizado pelos guarani para denominar o não indígena, como o elenco. Ou seja, não espere encontrar os artistas vestidos com cocares e tangas. “Eles começam bem urbanos e vão se despindo de diversas camadas”, diz a figurista Claudia Schapira.

Na concepção da Cia Oito Nova Dança, a música não deve servir à dança e vice-versa: é o encontro dessas linguagens que potencializa o trabalho. A violonista Andrea Drigo desenvolve pesquisas sonoras desde 1998, quando teve o primeiro contato com os guarani, em São Sebastião (litoral norte de SP).

Ela explica que, para os guarani, o violão, conhecido como mbaraká, é um instrumento muito presente. “Na trilha, os bailarinos tocam o violão de forma melódica, não dedilhada, e também repercutimos usando ossos.”

A trilha é toda eletroacústica e Andrea fica em cena junto com o elenco tocando violão elétrico e sintetizadores. “Essa junção é uma maneira de mostrar o encontro entre a cultura indígena e a urbana.”

Na boca de cena (parte da frente do palco), esteiras de palha, ossos, frutas e ervas compõem uma ambientação simples, mas que ajuda na atmosfera. A movimentação desenvolvida por Lu Favoreto em parceria com os bailarinos reflete a vivência corporal de todos na pesquisa de campo. Em “Juruá” é possível ter uma ideia clara de como se desenvolve a roda de xondaro entre os guarani, momento em que os bailarinos vão quase a exaustão.

A estreia do espetáculo faz parte de um programa mais amplo chamado Ocupação Esquiva. Antes das apresentações, será exibido o ensaio audiovisual Esquiva, realizado por Lucas Keese e Wera Alexandre e editado por Luísa Mandetta, que acompanharam as visitas dos artistas na aldeia Guarani Kalipety.

O público interessado poderá ainda assistir a uma roda de xondaro no dia 11 de agosto, às 16h30, e às 18h30 participar de um bate-papo com lideranças guarani mediado pela antropóloga Valéria Macedo.

Juruá

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