Abertura da mostra Queermuseu, no Rio, tem protestos de movimentos religiosos

Fechada um ano atrás diante de censura, exposição é reinaugurada neste sábado (18)

Nicola Pamplona
Rio de Janeiro

Representantes de movimentos religiosos realizaram um protesto neste sábado (18) contra a exposição Queermuseu, aberta no Rio cerca de um ano após ter sido censurada em Porto Alegre. Eles acusam a mostra de desrespeitar símbolos cristãos e de apologia à pedofilia e zoofilia.

Em setembro de 2017, protestos de movimentos conservadores levaram o Santander Cultural a decidir pelo cancelamento da mostra. A montagem no Rio foi garantida após crowdfunding , que levantou mais de R$ 1 milhão, e polêmica com o prefeito Marcelo Crivella (PRB).

Neste sábado, o curador da Queermuseu, Gaudêncio Fidelis, disse que a reabertura da mostra é uma "vitória contra o fascismo". "Na farsa que foi criada pelo MBL (Movimento Brasil Livre) em torno dessa exposição reside um movimento obscurantista", afirmou.

Grupos protestam contra a exposição Queermuseu, no Rio
Grupos protestam contra a exposição Queermuseu, no Rio - Nicola Pamplona/Folhapress

Representantes do MBL estiveram presentes ao protesto, ao lado de movimentos intitulados Liga Cristã Mundial e Templários da Pátria. Eles tentaram abafar o discurso de Fidelis gritando o nome do candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL) e do senador Magno Malta (PR), um dos críticos à mostra.

"A blasfêmia não pode ser esconder atrás da arte", gritavam os manifestantes antes do início do evento. O grupo reuniu cerca de 30 pessoas para o protesto, que teve convocação na página do MBL no Facebook.

“Nós não somos contra a arte. Somos contra o escarnecimento da fé cristã”, disse Eduardo Oliveira, diretor da Liga Cristã Mundial no Rio. “Que se faça a exposição, mas não com aquelas obras que estão lá dentro”, completou.

Diante do risco de manifestações, a organização da mostra reforçou a segurança do Parque Lage, que fica no Jardim Botânico, zona sul do Rio. Uma empresa privada foi contratada para fornecer 20 seguranças e outra, para implantar câmeras e fazer a vigilância online.

Houve momentos de discussão entre os manifestantes e pessoas que foram acompanhar a cerimônia de abertura, mas sem incidentes de violência. Antes da abertura, foram distribuídos aos presentes adesivos com a frase “Vencemos o fascismo”. 

“Eles querem cercear nosso direito de ser quem a gente é, de construir nossa família do jeito que a gente quer. Falam da família tradicional brasileira, mas o que querem é impor a família tradicional cristã”, rebateu a professora Carol Quintana.

"A EAV (Escola de Artes Visuais do Parque Lage) reafirma o seu comprometimento inegociável com a liberdade de expressão", disse o diretor da escola, Fábio Szwarcwald. Antes da EAV, a mostra chegou a ser cogitada pela direção do MAR (Museu de Arte do Rio), mas a ideia foi vetada por Crivella. 

"Só se for no fundo do mar", disse o prefeito, em vídeo divulgado em outubro de 2017. "Não estamos em Atlântida e a mostra vai acontecer no Parque Lage", rebateu neste sábado o diretor da EAV.

A organização do Queermuseu no Rio, porém, sofreu um revés na sexta (17), com decisão judicial que restringe o acesso de menores de 14 à mostra, alegando que as obras apresentam nudez e conteúdo sexual - adolescentes com 14 e 15 anos só podem ir acompanhados por responsáveis. 

Inicialmente, a ideia era permitir menores de 14 acompanhados. Szarcwald, que havia levado dois filhos menores de 14 ao Parque Lage, disse que vai recorrer da decisão. O pastor Silas Malafaia chegou a pedir ao Ministério Público a restrição a menores de idade, mas não obteve sucesso.

Entre as obras mais controversas da exposição, está uma tela de Adriana Varejão que retrata uma gueixa transando com um escravo, um rapaz penetrando uma cabra e dois garotos brancos num ato sexual com um rapaz negro.

Outra tela, de Bia Leite, em que meninos sorridentes aparecem com os dizeres "criança viada", recebeu acusações de apologia à pedofilia. Uma série de representações de Jesus nos quadros de Fernando Baril foi chamada de blasfema.

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