Descrição de chapéu Livros

Flip tentou abarcar quadro de renovação crítica dos pesquisadores de Hilda Hilst

Em réplica, curadora diz que foi possível estabelecer diálogos com a cena literária atual

JOSELIA AGUIAR

Uma festa literária apresenta autores e livros ao grande público. Não se trata de um evento acadêmico ou científico, embora possa contribuir para provocar debates e torná-los conhecidos por quem não é especialista.

Foi o que ocorreu em torno de Hilda Hilst, que a Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) escolheu para homenagear em 2018. Cresceu na última década o interesse em sua obra por parte de pesquisadores, e pretendíamos dar conta desse quadro de renovação crítica.

Fato que talvez desconheça Felipe Fortuna, que, ao escrever nesta Folha sobre a Flip —sem ter ido a Paraty (RJ)—, também reduziu o programa principal a apenas dois aspectos: a tentativa de Hilda Hilst de falar com mortos e sua pornografia.

Em uma parceria entre Flip, o Sesc paulista e o Sesc fluminense, foram organizados entre junho e julho 12 encontros, que reuniram 35 nomes, entre ensaístas, críticos, poetas e prosadores, para discutir os mais variados ângulos do trabalho de Hilst: a poesia, a prosa, o teatro, a crônica, seu lugar na história literária, a busca por Deus e o erótico, a sensibilidade mística, a dimensão animal, o viés político e o feminismo.

Entre veteranos e jovens pesquisadores, puderam aceitar o convite nomes como Alcir Pécora, Ana Chiara, Beatriz Azevedo, Carola Saavedra, Claudio Willer, Cristiano Diniz, Donizeti Mazonas, Eliane Robert Moraes, Eucanaã Ferraz, Gutemberg Medeiros, Ítalo Moriconi, Juliana Caldas, Luisa Destri, Mariana Ianelli, Marcos Visnadi, Marina Costin Fuser, Rodrigo Petronio.

A íntegra dos debates pode ser encontrada no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc.

Em Paraty, não é objetivo que o conjunto de mesas trate apenas do homenageado, mas é possível fazer um recorte da trajetória e obra e estabelecer diálogos com a cena literária atual.

Nos cinco dias de Flip, de 25 a 29 de julho, o programa de 19 mesas e 33 autores abordou aspectos e questões relacionados à obra hilstiana, mesmo quando a autora não era o assunto principal: a lírica portuguesa, a transgressão, a imbricação poesia-prosa, o desejo, a perda, a finitude e a transcendência, a literatura e a animalidade.

Das 19, quatro trataram exclusivamente de Hilda Hilst, do pormenor à totalidade. A abertura com leituras de sua obra feita por Fernanda Montenegro, seguida de apresentação musical de Jocy de Oliveira; a divulgação dos áudios gravados por Hilst enquanto fazia sua investigação sobre o pós-morte, objeto do filme de Gabriela Greeb "Hilda Hilst Pede Contato", cuja estreia se deu em Paraty; a aula de Eliane Robert Moraes que abordou toda a obra hilstiana, tendo leituras da atriz Iara Jamra; a sessão de encerramento, com artistas de campos diversos que falaram sobre suas obras a partir de Hilst —Eder Chiodetto, Iara Jamra e Zeca Baleiro.

Ainda, três poetas foram convidados a realizar performances baseados em Hilst: Bell Puã, Ricardo Domeneck, Reuben da Rocha.

Os áudios de todo o programa principal podem ser encontrados no canal da Flip no YouTube.

Merece registro ainda que o Instituto Hilda Hilst montou uma casa parceira em Paraty e, durante os cinco dias, reuniu autores do programa principal e outros convidados em atividade ininterrupta dedicada à vida e obra hilstianas.

Joselia Aguiar
Jornalista, historiadora e curadora da Flip em 2017 e 2018

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