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Maior estrela pop viva, Madonna, 60, defende o feminismo e renova sonoridade

Cantora é a artista solo (homem ou mulher) com maior número de sucessos na parada de canções dos EUA

As estrelas são eternas, não são? Norma Desmond, a personagem de Gloria Swanson em "Crepúsculo dos Deuses" se negava a admitir que a fama havia há muito ficado para trás, mas essa frase dita em uma das cenas finais do filme de Billy Wilder poderia batizar a biografia da mais longeva e bem-sucedida cantora pop.

Madonna Louise Ciccone fará 60 anos em 16 de agosto. Na carreira iniciada em 1982 com o lançamento do single "Everybody", números superlativos aparecem aos montes.

 

Vendeu mais de 300 milhões de cópias de disco. É a artista solo (homem ou mulher) com maior número de sucessos na parada de canções dos Estados Unidos. Sua última turnê, com 82 shows em 2015 e 2016, faturou R$ 640 milhões.

Mesmo sexagenária, Madonna não para. A cantora se mudou no ano passado para um palacete nos arredores de Lisboa com os quatro filhos mais novos (ela tem seis). Na capital de Portugal, é vista em lugares como o Tejo Bar, em que canta e toca com músicos locais. Depois de uma saída, postou uma foto nas redes sociais com os pés doloridos.

E com a influência de nomes portugueses do pop, da eletrônica e até do fado, ela prepara o 14º disco da carreira, ainda sem nome (uma música já é conhecida, "Beautiful Game"). O produtor francês Mirwais é um dos que trabalham no álbum que sairá neste ano.

Quando Madonna surgiu, ela tinha 24 anos e era uma mulher que chocava —tinha postura lasciva e visual agressivo, combinando bandanas, botas pretas e lingerie aparente. Aos 60, Madonna choca porque não se comporta como deveria se comportar uma mulher de 60 anos.

No ano passado, à revista Harper's Bazaar, a cantora foi direta: "Não acredito que exista uma idade em que não podemos mais falar ou sentir e nem ser o que somos. Tenho amantes que são três décadas mais novos do que eu. Isso faz as pessoas se sentirem desconfortáveis. Me recuso a ter uma vida convencional".

A vida e a carreira de Madonna não são nada convencionais, mas para tentar explicar quem é Madonna, é simplista afirmar que existem muitas Madonnas tendo como parâmetro as várias mudanças estéticas pelas quais sua música passou nesses anos todos.

Madonna ainda mantém a mesma motivação que tinha quando trocou Detroit por Nova York para tentar a carreira primeiro como dançarina e depois como cantora.

Quer ser a maior e a melhor artista do planeta, não importa se está milionária ou dura.

Sua primeira fita demo, ainda no final dos anos 1970, foi gravada em Manhattan sem nenhum músico de apoio.

"Ela tirava um som das guitarras, do teclado e da bateria para chegar a uma estrutura e depois colocava a letra. Madonna tinha um som próprio. Eu não precisava inventar as coisas do nada", disse Jon Gordon, que gravou aquela primeira demo com quatro faixas em um estúdio montado em uma antiga igreja na rua 57.

Na Nova York da virada dos anos 1970 para os 1980, quase falida, a violência estourando, Madonna entrou para uma cena em que circulavam gente como os artistas Keith Haring e Jean-Michel Basquiat. Havia a disco music, o pós-punk. E ali estava nascendo o hip-hop.

Um lugar da moda na cidade era o clube Danceteria. O DJ Mark Kamins discotecava ali quando Madonna foi à cabine e pediu que ele tocasse uma música dela. Era "Everybody".

Kamins e Madonna namoraram por um tempo, e ele lembra que, para ela, namorar era secundário. "Ela sabia usar a sexualidade para manipular os homens, todos eles."

Uma das principais críticas à cantora até hoje é a de que ela se submete ao desejo masculino e se coloca como objeto sexual passivo e obediente.

Nada mais rasteiro. Autora de livros como "Personas Sexuais" e "Sexo, Arte e Cultura Americana", Camille Paglia escreveu para o New York Times em 1990 que a cantora de "Into the Groove" expunha "o puritanismo e a ideologia sufocantes do feminismo" nos EUA.

"Madonna ensina mulheres jovens a serem inteiramente sexuais e femininas e ainda assim ter total controle de suas vidas. Ela mostra às garotas como ser atraente, sensual, enérgica, ambiciosa, agressiva e engraçada —tudo ao mesmo tempo", argumentou.

Em 2016, Madonna foi eleita a "mulher do ano" pela Billboard. Em seu discurso, disse que "as mulheres têm sido tão oprimidas há tanto tempo que acreditam no que os homens têm a dizer sobre elas".

Também naquele discurso, a cantora defendeu que mulheres reconhecessem seu próprio valor e "procurassem mulheres fortes para fazer amizade", descartando a crença de que precisam dos homens para realizar trabalhos.

 

Madonna afirmou ser uma sobrevivente. Verdade. Está no topo há mais de três décadas. Outras cantoras de sua geração, como Cyndi Lauper, perderam o rumo. E Michael Jackson, que também faria 60 anos, no dia 29 deste mês de agosto, morreu há nove anos.

Madonna já foi uma garota meio rebelde (na fase dos discos "Like a Virgin", de 1984, e "True Blue", de 1986); a jovem reflexiva e mística de "Like a Prayer", de 1989; a femme fatale de "Erotica", de 1992; uma hedonista espiritualizada em "Ray of Light", de 1998, e "Music", de 2000, e a adorável inconsequente de "Hard Candy", de 2008, e "MDNA", de 2012.

Mas Madonna também é uma só. Ainda é aquela mulher que vai jovem para Nova York decidida a virar uma estrela. Entende que para isso deve usar todos os recursos, inclusive dominar qualquer homem que se coloque como barreira à sua ascensão.

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