Descrição de chapéu Obituário V. S. Naipaul (1932 - 2018)

Morre o romancista V. S. Naipaul, vencedor do Nobel, aos 85 anos

Nascido em Trinidad e Tobago, autor de 'Uma Casa para o Sr. Biswas' morreu cercado pela família, em Londres

O autor em V.S. Naipaul em 2011 - Chris Ison/Associated Press
Com agências de notícia

O escritor britânico V. S. Naipaul, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura, morreu neste sábado (11), em sua casa, em Londres, aos 85 anos, segundo a família do autor.

Nascido na zona rural de Trinidad e Tobago em 1932, sir Vidiadhar Surajprasad Naipaul era conhecido por livros como "Uma Curva no Rio" e “Uma Casa para o Sr. Biswas”, lançados no Brasil pela editora Companhia das Letras. 

Considerado um dos principais autores ingleses do século 20, ganhou alguns dos principais prêmios literários do mundo. Com “Num Estado Livre”, venceu o Man Booker Prize de 1971. 

Em 2001, recebeu o Nobel de Literatura. Na justificativa do prêmio, Naipaul foi exaltado “por unir percepção narrativa e escrutínio incorruptível em obras que nos levam a perceber a presença de histórias suprimidas”.

A academia também destacou o sentido de deslocamento em sua obra: “um circum-navegador literário, só estava em casa nele mesmo, em sua voz inimitável”.  

“A maioria de nós conhece nossos pais e avós, mas nossas origens são mais distantes, remontamos ao infinito: todos remontamos até a origem da raça em nosso sangue, nossos ossos, nosso cérebro. Arrastamos a memória de milhares de seres”, escreveu Naipaul em “Um Caminho no Mundo”, livro de forte teor autobiográfico.

Descendente de uma família do norte da Índia, V.S. Naipaul ouvia o pai ler Shakespeare e Dickens para ele quando criança. Viveu no Caribe até os 18 anos, quando se mudou para a Inglaterra para estudar em Oxford com uma bolsa escolar. Por lá, morou a maior parte da vida. 

Mais tarde, recebeu o título de doutor honoris causa de Oxford e também das universidades de Cambridge, Londres e Columbia. Em 1990, foi sagrado cavaleiro britânico pela rainha Elizabeth 2ª.

Comparado a escritores como Joseph Conrad, Charles Dickens e Leon Tolstói, Naipaul documentou o colonialismo, a dissolução do império britânico, a imigração de pessoas e as ironias e traumas do mundo pós-colonial, temas que espelhavam sua própria trajetória, em mais de 30 livros de ficção e não ficção. 

O autor, no entanto, era criticado pela arrogância. Em entrevista à Folha, em 1994, indagado sobre a dificuldade de ser escritor num país colonial, respondeu: “Tenho uma carreira de 40 anos. Sou mais importante que muitos escritores. Você não pode falar disso comigo. Minha família é muito rica. Não posso fingir que sou um mendigo ignorante”. 

Muitos liam seus relatos da desordem no terceiro mundo como desculpas para o colonialismo.
No livro “Sir Vidia’s Shadow”, o autor americano Paul Theroux narra sua relação com Naipaul e o descreve como “misógino”, “rabugento”, “tacanho” e de “cérebro racista”. Anos depois, os dois escritores se reconciliariam.  

Naipaul esteve no Brasil, em 1994, para promover “Um Caminho no Mundo”. Na época, disse à Folha: “Muito poucas pessoas leram de fato meus livros. As pessoas blefam a respeito”.

Sua mulher, Nadira Naipaul, o classificava como “um gigante em tudo que conquistava”. Segundo ela, o escritor morreu “cercado pelos que o amavam, após viver uma vida cheia de criatividade e empenho”.

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