Neta de Tônia Carrero reencarna papel que marcou carreira da avó

Luisa Thiré vive a prostituta Neusa Sueli em 'Navalha na Carne', que está em cartaz em São Paulo

MARIA LUÍSA BARSANELLI
São Paulo

Aos olhos da crítica e do público, Tônia Carrero não era muito mais que um belo rosto quando estreou "Navalha na Carne", em 1967.

Foi com a peça de Plínio Marcos que provou seu talento de atriz, na pele da prostituta decadente Neusa Sueli.

Tônia traduzia, nos pequenos gestos, "a poética e atormentada alma" da personagem, conforme definiu o crítico Yan Michalski.

nelson e tônia em quarto
Tônia Carrero, como Neusa Sueli, divide cena com Nelson Xavier em "Navalha na Carne" (1967) - Reprodução

A atriz levou os prêmios Molière e da Associação de Críticos Cariocas pela atuação na montagem, com direção de Fauzi Arap, que contava ainda com as participações de Emiliano Queiroz e Nelson Xavier no elenco.

Não à toa, é com o mesmo texto que Luisa Thiré decidiu homenagear a avó, morta em março. Ela repete o papel de Neusa Sueli em montagem que chegou ao Sesc Bom Retiro na quinta passada, quando Tônia faria 96 anos.

 

Havia tempos já que Thiré pensava em homenagear Tônia, que estava fora de cena desde 2007. "E obviamente tinha que ser pelo teatro, porque era nossa paixão comum", diz a neta. "Navalha na Carne" surgiu não só como um tributo, mas também como um aceno aos nossos tempos.

"Fiquei chocada porque é um espetáculo muito atual, fala da questão da violência contra a mulher, da homofobia. São assuntos que ainda estão aí", comenta Thiré. "Plínio escrevia sobre um grupo de pessoas, sobre uma violência, e acho que, nesses 50 anos, tudo isso cresceu."

Clássico do teatro marginal de Plínio, "Navalha na Carne" é um retrato do submundo e uma metáfora dos mecanismos de poder entre as classes sociais —ainda no ano da estreia, em 1967, sofreu cortes da censura e sua íntegra só foi encenada 13 anos depois.

A história se passa toda no quartinho mirrado de Neusa Sueli, onde ela encontra o cafetão Vado (aqui interpretado por Alex Nader). A prostituta é constantemente explorada e humilhada por ele, mas nutre pela relação um misto de medo, repulsa e carinho.

Um dos conflitos do casal nasce do sumiço do dinheiro que Neusa Sueli deixara mais cedo para Vado e que, logo se descobre, foi afanado pelo faxineiro gay Veludo (Ranieri Gonzalez).

A nova montagem, dirigida por Gustavo Wabner, é precedida de um vídeo de seis minutos que resume o início da carreira de Tônia e traz imagens da sua montagem de "Navalha na Carne", além de depoimentos da atriz e do próprio Plínio Marcos sobre a peça.

NAVALHA NA CARNE

  • Quando Sex. e sáb., às 21h, dom., às 18h. Até 30/9.
  • Onde Sesc Bom Retiro - al. Nothmann, 185
  • Preço R$ 9 a R$ 30
  • Classificação 16 anos
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