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Está se tornando um hábito: pela segunda vez, quando as eleições presidenciais se aproximam, Leandro Hassum lança sua comédia parodiando a trágica cena política nacional e seus atores. Desta vez a narrativa se alimenta do contexto da Lava Jato e do impeachment para divertir em situações evidentemente fictícias.
Depois de cumprir apenas quatro anos da enorme pena à qual fora condenado, o carismático e demagógico ex-deputado João Ernesto (Hassum) sai da cadeia graças às manobras do senador Ivan Pires (Cassio Pandolfh), presidente do maior partido do país, para concorrer à Presidência.
Depois de eleito, João Ernesto tem de pagar o alto preço exigido pelo inescrupuloso Pires, seu vice, que como boa eminência parda quer governar e lança mão de um vasto arsenal de intimidações, entre elas a possibilidade de um impeachment.
Se o personagem de Hassum remete evidentemente ao ex-presidente Lula, Ivan Pires é uma cópia de Michel Temer, caracterizado com todos os atributos de vampiro, como seu próprio nome já indica.
O grupo de figuras políticas parodiadas tem ainda Dilma Roussef, Jair Bolsonaro, Marina Silva —que aparece de relance em um debate de candidatos e não diz uma palavra. Até personagens insignificantes como o Japonês da Federal têm direito aos seus 15 segundos de glória.
A comicidade em torno de Dilma (Mila Ribeiro) se baseia na boa imitação de sua voz e nas formulações delirantes de suas falas. Reiterados constantemente, os disparates que diz logo perdem a graça.
Bolsonaro —que aqui se chama Pedro Rebento (Anderson Müller)— é desenhado de modo mais cáustico como o candidato que faz a apologia da violência. Quando se torna presidente da Câmara e deve liderar o impeachment, se aproxima de Eduardo Cunha, mas logo o personagem desaparece.
Além do habitual humor histriônico de Hassum, recheado de piadas tão repetitivas quanto pouco inteligentes, com direito a doses de homofobia e outros preconceitos, o filme se esmera na visada supostamente crítica em relação à política, imbuído da certeza —que compartilha com o filme anterior— de que todo político é corrupto.
O que transparece, no entanto, é um antipetismo mal disfarçado, um discurso tosco de desautorização da política como um todo. Representantes do PT, do PMDB, do centrão e da extrema direita são objetos de escárnio. Mas brilha pela ausência qualquer alusão a figuras do PSDB. O filme só ganharia sem essa seletividade, afinal, uma paródia de Aécio Neves completaria muito bem essa grotesca galeria de tipos.
Outro aspecto a deplorar é o final com pretensões edificantes, com direito a melodrama e revelação de um segredo, no mais puro estilo telenovela.
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