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'O Caso do Homem Errado' é um filme necessário por sua terrível atualidade

Assunto do documentário é o genocídio negro que continua em curso

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CENA DE O Caso do Homem Errado
Cena do documentário 'O Caso do Homem Errado' - Divulgação

O Caso do Homem Errado

  • Quando Em cartaz
  • Classificação 10 anos
  • Produção Brasil, 2017
  • Direção Camila Lopes de Moraes

Uma mulher caminha pela capital gaúcha exibindo um cartaz. Nele, vê-se a fotografia de um homem negro ferido na boca, sob os dizeres "Até quando?". Assim começa "O Caso do Homem Errado", filme de Camila de Moraes.

A história contada pelo documentário começa em 14 de maio de 1987. Durante um assalto a um supermercado de Porto Alegre, com duas crianças feitas reféns, uma multidão se forma. Um dos que param para ver o tumulto é Júlio César, o operário cuja imagem aparece estampada no cartaz.

Ele tem um ataque epilético, cai no chão e, confundido com um assaltante, é colocado no fusca da Polícia Militar. Chega morto ao hospital, com um tiro no peito.

Fotógrafo do jornal Zero Hora, Ronaldo Bernardi fez imagens de Júlio César sentado na viatura da polícia, algemado, e no IML, já sem vida. Publicadas no dia seguinte, elas se tornaram imediatamente prova da execução praticada pelos policiais. E que tinha como alvo de predileção jovens negros e pobres.

Esteticamente sóbrio, o documentário reconstitui a história de Júlio César e do julgamento que se seguiu atendo-se a entrevistas com pessoas próximas à vítima, jornalistas e defensores dos direitos humanos. Nesse sentido, trata-se de um filme militante, que não pondera com "o outro lado".

São emocionantes e desoladores os depoimentos do fotojornalista Ronaldo Bernardi e do ex-procurador Luiz Francisco Correa Barbosa —ambos se envolveram pessoalmente na investigação desse crime.

O caso se tornou célebre no Rio Grande do Sul, sobretudo pelo fato de Júlio César ser um trabalhador —e por isso chamado de "o homem errado". Os entrevistados ouvidos no filme questionam, no entanto, o título. Afinal, haveria um homem certo, que merecesse ser executado sem julgamento nem direito à palavra?

De lá para cá, infelizmente não é possível comemorar a diminuição da violência policial nem da seletividade racista de seus alvos.

O assunto do filme, no fim, é o genocídio negro que continua em curso. Empreitada de duas cineastas negras —a produtora Mariani Ferreira assina o roteiro ao lado da diretora, Camila de Moraes— "O Caso do Homem Errado" é um filme necessário por sua terrível atualidade.

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