Descrição de chapéu

Produção barata, 'Virgens Acorrentadas' explora com sucesso a metalinguagem

Brincadeira descompromissada, 1º longa internacional de Paulo Biscaia Filho tem final sagaz

Cena de 'Virgens acorrentadas', de Paulo Biscaia Filho - Divulgação
SÉRGIO ALPENDRE

Virgens Acorrentadas

  • Quando Estreia nesta quinta (9)
  • Classificação 16 anos
  • Elenco Elizabeth Maxwell, Kelsey Pribilski, Ezekiel Swinford
  • Produção EUA/Brasil, 2018
  • Direção Paulo Biscaia Filho

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No submundo do cinema de terror, um dos maiores trunfos que um diretor pode ter é a liberdade. Não que seja uma liberdade total. Afinal, o baixo orçamento implica em severos limites de produção.

Mas há a possibilidade de se arriscar mais, e até de fazer coisas que se estivessem num longa de alto orçamento soariam falsas. Um diretor inteligente, auxiliado por um bom argumento, pode extrair algo interessante de uma história pífia com produção barata, apoiando-se apenas nessa liberdade.

É o caso de “Virgens Acorrentadas”, primeiro longa internacional do diretor curitibano Paulo Biscaia Filho, conhecido no underground brasileiro por seus filmes de terror sanguinolentos.

Filmado em Austin, no Texas, e com produção e elenco americanos em grande parte, é um longa que surpreende por trazer um sopro de invenção dentro da pobreza estética que apresenta com certo orgulho (porque terror classe Z que se preze tem de se orgulhar de ser barato e tosco).

Se por um lado a direção sofre com o baixíssimo orçamento (e talvez com os próprios códigos do subgênero), por outro, a narrativa vai para lados bem interessantes, mesmo que parte de sua trama possa ser adivinhada facilmente por quem costuma ver filmes desse tipo.

A trama explora com sucesso considerável a metalinguagem . Um roteirista de cinema à margem de Hollywood, e de qualquer possibilidade de sucesso, decide ele mesmo, após um pesadelo, produzir e dirigir um longa metragem de terror. Sua namorada o ajuda de perto, e alguns amigos se solidarizam na produção.

Ao conhecer um diretor de filmes de terror com mais experiência, acaba desenvolvendo uma espécie de parceria, sem saber que esse diretor experiente é na verdade um realizador de “snuff movies”, ou seja, filmes com mortes e sangue reais.

Do subgênero de jovens acorrentadas vamos então ao subgênero da casa com assassinos, e nossos heróis precisam desafiar os inimigos com as armas que têm. E o espectador verá: há armas de todas as espécies.

E sobram citações de clássicos do “gore”. A mais explícita é a do diretor Herschell Gordon Lewis, pai do subgênero no cinema, inaugurado em 1963 com “Banquete de Sangue”. Mas há muitas outras citações, que servem como piscadelas para o público.

É fácil apontar cenas mal dirigidas, ou dirigidas com afobação, assim como atuações, digamos, amadorísticas. Mas tudo isso é parte do charme de um gênero que, com bom orçamento, costuma fracassar na estética e nas soluções narrativas.

Não se trata da falácia de criticar um filme pelo que ele pretende ser. Mesmo porque, isso mal temos como saber. Trata-se apenas de entender as regras do jogo e aceitar que alguns desses filmes toscos podem ser mais inventivos do que aqueles que se prendem pela masmorra das premiações e do prestígio autoral.

E assim dá para curtir essa brincadeira descompromissada, que conta com um final sagaz como raros nesse tipo de filme. Desde, claro, o espectador goste de ver sangue espirrado na tela.

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