Descrição de chapéu Artes Cênicas

Romance 'Guerra e Paz', de Tolstói, ganha ar pop em musical de câmara

'Natasha, Pierre e o Grande Cometa de 1812' estreia em montagem brasileira com serviço de jantar russo

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MLB
São Paulo

Dave Malloy, como ele mesmo define, tem um gosto perverso por escolher textos com reputação de entediantes. Já adaptou ao teatro o poema épico "Beowulf", tentou levar ao palco a obra do taoista Zhuangzi e atualmente trabalha num musical a partir do romance "Moby Dick", de Herman Melville.

Mas "tediosa" não é bem como se descreveu a adaptação do compositor americano para "Guerra e Paz", de Tolstói.

Seu espetáculo "Natasha, Pierre e o Grande Cometa de 1812", um musical de câmara baseada no romance do autor russo, foi chamado há dois anos pela crítica do New York Times de o melhor e mais inventivo musical da Broadway desde o fenômeno "Hamilton". Ainda liderou as indicações ao prêmio Tony 2017, com 12 categorias.

De cara, Malloy brinca com o peso da obra de Tolstói, livro em quatro volumes que tem como pano de fundo as Guerras Napoleônicas e discute a aristocracia russa do século 19. Já no prólogo, o elenco introduz os personagens e avisa: é um romance "complicado, muito nome para decorar".

"Ele conseguiu tornar esse clássico, que muitas vezes pode assustar, uma coisa vibrante", diz Zé Henrique de Paula, diretor da primeira montagem brasileira do musical, que estreia em São Paulo

O espetáculo pinça um trecho de 70 páginas, mais precisamente a quinta parte do segundo volume do romance, depois da chegada de Natasha Rostova (aqui interpretada por Bruna Guerin) a Moscou.

Ingênua, a jovem idealiza o noivo, que agora luta na guerra e ela há muito não vê. Mas então é enredada pelo galanteador e interesseiro Anatol Bolkonski (Gabriel Leone).

Logo Natasha percebe ter sido enganada e recebe a ajuda de Pierre Bezukhov (André Frateschi), homem sem tato social e em constante conflito com suas crenças, que acaba se apaixonando pela jovem.

A peça se concentra nos embates dos três personagens e realça algo não tão latente no romance: a passagem do cometa de 1812, que Pierre vê como um sinal de recomeço.

"Há também uma discussão sobre esse fausto, essa opulência daquela aristocracia", afirma Zé Henrique. "Tolstói e o espetáculo falam da desconexão dessa classe social até com a realidade."

Tudo é narrado num espetáculo "sung-through" —musical cantado do início ao fim— que mescla ritmos diversos.

"Há canções do teatro musical, mas Malloy usa pop, folk, rock. Não é só um mix de influências, tudo tem uma função narrativa. A batida eletrônica, por exemplo, é usada para cenas do Anatol", explica a diretora musical Fernanda Maia.

As curvas dos personagens, que se transformam durante a trama, replicam-se na encenação, feita num espaço semelhante a um cabaré, recoberto de cortinas rubras aveludadas e temas moscovitas.

O palco é todo sinuoso e contorna as mesa onde se sentam os espectadores —que também podem comprar um jantar, servido uma hora e meia antes, com cardápio russo, e se servir do bar do local.

Um visual como o do original, que em sua primeira montagem, off-Broadway, de 2012, era encenado numa tenda; quatro anos depois, já na Broadway, adaptou palco e plateia do Imperial Theatre.

Os atores passeiam pelo espaço, andam ao lado do público, subindo e descendo do palco. Algo que delineia a interpretação de gestos pequenos, próxima da linguagem do cinema, diz Frateschi, que faz aqui o seu primeiro musical.

Também é uma brincadeira entre forma e conteúdo, afirma o diretor. Representa os vários pontos de vista dos espectadores do musical e da história descrita por Tolstói.

Natasha, Pierre e o Grande Cometa de 1812

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