Descrição de chapéu

'Unicórnio', de Eduardo Nunes, se sustenta sobretudo no mistério

Diretor se liberta do peso de Tarkóvski para criar combinação harmoniosa de visual, roteiro e música

Naief Haddad

Unicórnio

  • Quando Estreia nesta quinta (16)
  • Classificação 10 anos
  • Elenco Barbara Luz, Patrícia Pillar, Zécarlos Machado e Lee Taylor
  • Produção Brasil, 2017
  • Direção Eduardo Nunes

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O fluminense Eduardo Nunes, 49, já havia demonstrado talento incomum em "Sudoeste" (2011), seu primeiro longa-metragem. O filme lhe rendeu o prêmio de melhor diretor pela APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte), entre outras conquistas.

Mais do que a rejeição ao realismo, "Sudoeste" chamava a atenção pela exuberância visual, que se acentuava no uso de um formato de tela, o chamado 3.66, mais horizontalizado que o cinemascope.

Notava-se, por outro lado, um formalismo excessivo nesse primeiro longa, quase um exercício acadêmico em algumas situações. O russo Andrei Tarkóvski (1932-1986) era mais do que uma referência para Nunes, parecia um peso.

Em "Unicórnio", que estreia nesta quinta (16), o diretor mostra um avanço notável. Não há só um refinamento estético, outra vez construído em planos longos —Nunes volta, aliás, a trabalhar com o diretor de fotografia Mauro Pinheiro Jr.

Talvez o que mais diferencie um filme de outro seja a relação fluente em "Unicórnio" desse requinte visual com o roteiro, a música, os efeitos de som. As partes não se destacam de forma isolada. Essa combinação harmoniosa é uma das marcas da maturidade de Nunes.

Também assinado por ele, o roteiro se inspira em novelas de Hilda Hilst, "O Unicórnio" e "Matamoros".

Duas linhas narrativas se entrelaçam ao longo do filme.

Na primeira, a adolescente Maria (Barbara Luz) conversa com o pai (Zécarlos Machado) sobre a existência de Deus e a morte, entre outras questões de cunho metafísico. Estão sentados, lado a lado, em um ambiente todo branco.

Na outra, mais extensa, Maria passa os dias com a mãe (Patrícia Pillar) em uma casa modesta nas montanhas. A chegada de um criador de cabras (Lee Taylor) provoca ruídos na relação das duas.

Mais do que isso convém não dizer. E mesmo essa tentativa de síntese está sujeita a questionamento porque "Unicórnio" se sustenta sobretudo nos mistérios —definitivamente, não estamos no terreno de assimilação imediata do entretenimento.

Essa busca pelo insondável dá trabalho ao elenco. A jovem Barbara Luz se revela uma atriz promissora, e Patrícia Pillar e Lee Taylor expõem uma sensibilidade já conhecida. Mas cabe a Zécarlos Machado a mais rica criação de um personagem. É um grande ator de teatro que sempre vai bem no cinema.

O avanço de Nunes se percebe também na direção de atores. Se bem que tudo fica mais fácil quando é possível contar com um ator da excelência de Machado.

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