Descrição de chapéu

Yamandú Costa e Ricardo Herz não abusam do virtuosismo em álbum

Um dos melhores do ano, disco não tem outros instrumentos além de violino e violão de sete cordas

Yamandu Costa e Ricardo Herz
O violinista Ricardo Herz e o violonista Yamandú Costa  - Gabriel Boieras/Divulgação
SIDNEY MOLINA

Yamandú Costa e Ricardo Herz

  • Preço R$ 19,90 (para download)
  • Gravadora Selo Bagual

Para tocar com violão, o violino tem que recusar parte de sua característica mais essencial —o som contínuo, "legato"; já para interagir com violino, o violão tem que cantar, vibrar notas longas, diversificar articulações e dinâmicas muito mais do que em geral faz.

Esses desafios percorrem todas as faixas do primeiro CD lançado pelo violonista Yamandú Costa em duo com o violinista Ricardo Herz. Já é possível considerá-lo um dos melhores lançamentos do ano na música instrumental.

Yamandú é um gaúcho-regional que persegue incansavelmente a trilha da universalidade; Herz, um universal-paulista que conquistou a segurança fundadora dos idiomas regionais.

Yamandu Costa e Ricardo Herz
Os músicos Yamandú Costa e Ricardo Herz - Gabriel Boieras/Divulgação

Três composições são assinadas por Herz e seis por Yamandú, além de duas parcerias. Não há músicos convidados ou outros instrumentos além de violino e violão de sete cordas. Na textura mais comum —em que cabe ao violão a função do acompanhador—, Yamandú está no seu meio: segue cada intenção fraseológica do violino, deixa Herz à vontade para criar.

Mas eles também trocam de função, como em momentos do chamamé gaúcho "Chamaoquê" (que é de Herz).

Há também frases espetadas juntíssimas em "Mourinho" (Herz) —inspirada pelo "Mourão" de Guerra-Peixe (1914-93)—, na qual também sobressai a qualidade penetrante das linhas de baixo que Yamandú constrói.

Melodias inspiradas perpassam o CD: "Inocente" (Herz), poderia fazer bonito num disco antigo de Moraes Moreira; "Remanso" (dos dois) sai de uma canção argentina e conserva seu lirismo; e Ennio Morricone provavelmente aplaudiria "Reencontro".

"Meiga" e "Mimosa" (de Yamandú) e "Matutinho" (dos dois) trazem uma ampla gama de elementos do violão brasileiro, de Laurindo Almeida (1917-95) a Paulo Bellinati; de Baden Powell (1937-2000) a Marco Pereira.

Destrinchar as teias de influências mostra a riqueza labiríntica das sonoridades do álbum, mas não deve jamais obscurecer a sua originalidade.

Neste CD, Yamandú e Herz —reconhecidos virtuoses— não abusam de escalas rápidas e andamentos sobre-humanos. Há refinamento de timbre e expressão, com o que o álbum ganha tons camerísticos. É sinal que o duo nasce em um momento especial de maturidade artística.

Isso se reflete na estrutura das composições: temas como "Xote da Galinha" e, principalmente, "Milonga Choro", de Yamandú, com sua economia formal e senso de desenvolvimento, certificam o compositor para além do carisma já consolidado do intérprete.

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