Benjamim Sallum, 18, largou a escola para estudar russo e ser DJ

Paulistano já se apresentou em grandes festas da cidade e está em Berlim para convenção musical

Thiago Ney
São Paulo

Benjamim Sallum tem 18 anos e não gosta muito de matemática nem de física. Ele curte os russos.

"Desde pequeno eu gosto de ler Turguêniev, Dostoiévski, Tolstói. A literatura russa sempre me encantou. Depois ainda conheci Maiakóvski", diz. "Então, há quatro anos decidi estudar russo, para poder ler no original."

Além da literatura russa, a grande paixão de Benjamim é a música —mais especificamente, a música eletrônica. Desde os 13 anos ele produz e toca em grandes festas de São Paulo e, nesta semana, junta-se a outros jovens 60 DJs e produtores na Red Bull Music Academy, em Berlim.

Ali, até 12 de outubro, eles assistirão a palestras e estarão em contato com gente graúda da música, como a americana Janelle Monáe.

O DJ Benjamim Sallum
O DJ Benjamim Sallum, em São Paulo  - Felipe Gabriel/Divulgação

Nascido em São Paulo, filho de Claudia Cunha, uma conhecida promoter da noite paulistana, e de Jorge Sallum, dono da editora Hedra, Benjamim decidiu parar de estudar quando estava no primeiro ano do ensino médio. "Meu pai ficou decepcionado. Mas foi bom porque eu pude conhecer um monte de gente e ter mais tempo livre para fazer música, viajar."

Jorge, 45, diz que ficou, sim, decepcionado, mas apoia a decisão do filho. "Fiquei sentido no momento, disse que a partir dali ele teria que ganhar o próprio dinheiro", diz o editor. "Mas ele foi atrás, se dedicou realmente à música. E São Paulo estava na época em um grande momento, estavam acontecendo muitas festas de rua, os jovens ocupavam a cidade. O Benjamim tocou em muitas festas, participou de ocupações."

A partir da Voodoohop, festa criada pelo alemão Thomas Haferlach em 2009, nasceram na capital paulista uma série de festas que se propunham a ocupar tanto as ruas do centro como locais abandonados, como Mamba Negra, Capslock, Selvagem e ODD, do produtor Zopelar. Levado pela mãe, Benjamim se interessou pelo que viu. Primeiro, ao lado de um amigo, fazia tatuagens durante as festas. Depois, focou a música.

Ainda adolescente, Benjamim teve uma crise com a música que produzia. "Era um techno bem melódico, com samples de música brasileira, pouca instrumentação. Então mudei e hoje faço algo diferente. Crio as faixas no computador e depois passo para o cassete."

Sim, fita cassete, mídia tida como pré-histórica e que atualmente está sendo redescoberta por jovens como Benjamim. "Quando passo para o cassete, as batidas ficam mais saturadas. O som fica mais cru. Acho que é um som que fica melhor se ouvido em fones, em vez de em uma pista de dança."

Para Benjamim, o cassete tem uma "textura própria, o vocal sai diferente. A música fica meio que em baixa definição".

Até o final do ano, ele vai soltar várias faixas inéditas, tanto pelo selo que criou, o Oxi, como por outros internacionais. "Nos últimos sete meses eu e o Zopelar fizemos cinco discos. O primeiro sai agora em setembro." Ao lado de Zopelar, Benjamim fez a dupla My Girlfriend is Programming the Roland TR-909, Making a House Beat —ou apenas My Girlfriend.

Também sai um disco pelo projeto Radio Workers (Benjamim, Zopelar e Martinelli).

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