Volume da coleção de mapas mostra o estudo cartográfico como arma política

Sexto volume chega às bancas no dia 4 de novembro

Anexo do volume 6 da Coleção Folha O Mundo pelos Mapas Antigos
Anexo do volume 6 da Coleção Folha O Mundo pelos Mapas Antigos - Reprodução
 
Cristiane Martins
São Paulo

​​Se por um lado a ciência revolucionou a cartografia com mais precisão e tecnologia, por outro o poder político conseguiu manter sua influência na produção de mapas distorcidos com suas 
próprias visões de mundo.

O uso desses documentos como arma de propaganda é tema do sexto volume da Coleção Folha O Mundo pelos Mapas Antigos, que chega às bancas em 4 de novembro. 

Antes, cartógrafos atrelavam seus documentos a princípios religiosos, políticos, ideológicos. A partir do final do século 19, a ciência deu saltos de desenvolvimento enquanto a técnica cartográfica perdeu importância para a mensagem central dos mapas. A precisão e as projeções modernas, primeiro exigidas e celebradas, deram espaço a distorções geográficas.

No início do período, os primeiros mapas apresentavam traços cômicos, estética popularizada por Fred Rose no Reino Unido. A ascensão de técnicas como a litografia e a impressão com cera, a partir da metade do século 19, democratizou o acesso aos mapas. Os modelos de Rose, no entanto, exigiam conhecimento prévio, priorizavam uma comunicação direta e adotavam um inovador código de cores para transmitir sua mensagem.

Cartógrafos desfiguravam a Terra para comportar suas ideias, suas mensagens e seus olhares sobre o mundo. A cartografia de propaganda é adotada até hoje, principalmente, em três formatos: anúncios publicitários, mapas humorísticos e propaganda política.

Quinto volume

A partir do século 19, cientistas percorreram e exploraram o mundo em busca de amostras e observações que trouxessem mais luz às características e aos segredos do mundo natural.

Os achados exerceram forte influência sobre a cartografia desde então.

O quinto volume da Coleção Folha O Mundo pelos Mapas Antigos, “A Cartografia e as Novas Ciências da Terra”, apresenta os mapas de temática científica, que se apresentaram no século 16, atingiram o auge no século 19 e continuam a ser produzidos até hoje.

A edição, que chega às bancas em 28 de outubro, vem acompanhada pelo mapa avulso intitulado “A General Map of the World, or Terraqueous Globe”, de 1794, do cartógrafo e editor britânico Samuel Dunn (1723-94).

Com linguagem acessível e analítica, a Coleção Folha apresenta uma breve introdução sobre o contexto da produção cartográfica do período e reproduz os mapas mais importantes da época.

A exemplo de “Tabula Geographico-Hydrographica”, do alemão Athanasius Kircher (1602-80), que descreveu as correntes oceânicas a partir de observação e especulação, de mitos e do positivismo religioso.

O volume da Coleção Folha traça a evolução da ciência na cartografia a fim de preencher as lacunas nos mapas, como o uso de matemática, astronomia, cartas meteorológicas, telescópios e até cronômetros marinhos. ​

Quarto volume

A cartografia do Extremo Oriente, que foi amparada pelo apuro estético aliada às crenças religiosas como o budismo e o confucionismo, é tema do quarto volume da Coleção Folha O Mundo pelos Mapas Antigos, que chega às bancas em 21 de outubro.

Desenvolvida em três núcleos: China, Japão e Coreia, e em paralelo à cartografia do Ocidente, isto é, com evolução alheia a todos os avanços europeus, o registro cartográfico do Extremo Oriente começou cedo.

Foi na China onde o primeiro registro cartográfico do Leste Asiático foi desenhado. O mapa "Yu Ji Tu" ou "Mapa das Rotas de Yu Gong", de 1137, desenha a larga rede fluvial chinesa e se destacou pela precisão científica alcançada; contudo, não pela matemática, como os Europeus, mas pelas escalas de significado religioso e cultural.

O volume acompanha o mapa avulso "Shinsei Yochi Zenzu", registro cartográfico japonês datado de 1848 e assinado pelos japoneses Shincho Kurihara e Heibei Chojiya.

O mapa integrou os conhecimentos cartográficos europeus daquela época, mas também indica avanços estilísticos, como a técnica do pontilhismo —largamente utilizada na ilustração cartográfica europeia—, bem como a utilização do silabário da escrita japonesa "katakana" na identificação dos lugares e dos elementos geográficos, no lugar dos caracteres chineses utilizados no Período Edo.

Terceiro volume

A França, em sua Idade de Ouro, conseguiu agregar diversos princípios científicos ao registro cartográfico e foi capaz de transformar a maneira de se fazer mapas. Essa cartografia positivista e especulativa é tema do terceiro volume da Coleção Folha O Mundo pelos Mapas Antigos, que chega às bancas no domingo (14).

As mudanças surgiram em meio a debates e teorias geográficas por mapas cada vez mais precisos, gerando imensa pressão científica, econômica e política.

Por faltarem dados geográficos concretos, recorria-se à cartografia especulativa ou positivista, a fim de preencher os espaços vazios com teorias científicas próprias.

Profissionais combinavam informações concretas vindas de explorações e registraram, por exemplo, o Noroeste do Pacífico, a África central e o Extremo Oriente. O terceiro volume da Coleção Folha analisa e apresenta dez mapas do período.

O documento que abre a edição é de autoria do geógrafo Nicolas Sanson (1600-1667), francês capaz de fazer frente ao poderio cartográfico holandês, com gravações de alta qualidade e precisão.

Ele é tido como o pai da cartografia francesa. A Coleção Folha traz ainda uma reprodução avulsa do "Mappemonde ou Description du Globe Terrestre", de 1783, documento histórico do editor e cartógrafo Robert de Vangondy (1723-1786).

Segundo Volume

A Idade do Ouro holandesa, quando floresceram arte, ciência e indústria no fim do século 16 e ao longo do 17, levou a uma revolução na cartografia, com a crescente demanda por novos impérios, parceiros comerciais e destinos.

O segundo volume da Coleção Folha O Mundo pelos Mapas Antigos, que chega às bancas no domingo (7/10), aborda o poderio marítimo e comercial da Holanda, a descoberta da América e a separação da Terra Australis da Terra do Fogo.

Cartógrafos eram cada vez mais exigidos a entregar peças mais precisas e com novas descobertas. A indústria gráfica potencializou a troca de informações, tanto geográficas quanto científicas.

O matemático flamengo Gerardo Mercator (1512-94) solucionou à época, por meio da matemática, o problema náutico da curvatura da Terra. Na prática, essa representação cartográfica permitia que o navio alcançasse com mais precisão o destino almejado. É, atualmente, uma das mais utilizadas no mundo.

A coleção traz ao leitor uma projeção ártica produzida por Mercator em 1606, documento tido como o primeiro mapa do mundo do polo Norte. O volume analisa e apresenta 11 mapas, entre eles um de autoria do cartógrafo holandês Abraham Ortelius (1527-98), que mostra o território australiano três décadas antes da descoberta oficial.

O segundo volume acompanha uma reprodução avulsa do mapa "Orbis Terrae Novissima Descriptio", um raro mapa em dois hemisférios do cartógrafo Jodocus Hondius e do editor Jean Le Clerc.

Primeiro volume

Onde estamos e para onde vamos? Os mapas tentam responder a essas perguntas desde a Roma antiga com perspectivas que vão muito além de meras coordenadas geográficas. A cartografia passa pela compreensão do mundo, a busca introspectiva da fé, a criação de lugares imaginários e a disputa política.

A Coleção Folha O Mundo pelos Mapas Antigos, que chega às bancas em 30/9, apresenta com didatismo os maiores e mais raros documentos cartográficos espalhados por museus do mundo.

O traçado histórico parte dos primeiros mapas produzidos no Império Romano e passa por documentos que registram desde descobertas no continente americano até sátiras na Segunda Guerra Mundial.

A série é composta de dez livros de capa dura e 12 mapas avulsos, impressos em tamanho ampliado e coloridos em papel especial, o que permite emoldurá-los. Os volumes, que custam R$ 24,90 cada um, saem aos domingos.

Cada edição reproduz os mapas mais importantes de um determinado período, com análises sobre os cartógrafos e os principais interesses econômicos, políticos e religiosos à época.

No primeiro volume, “O Nascimento da Cartografia”, há dois documentos com perspectivas muito distintas do que se tem hoje por um mapa. Ambos são de um modelo pré-ptolomaico, ou seja, não adotavam ainda projeções matemáticas.

“Tabula Peutingeriana”, cujo original foi produzido no reinado do imperador Augusto, no século 1º, traça num pergaminho de 6,75 metros por 35 centímetros algo semelhante a um mapa viário, com indicações de distâncias, caminhos, cidades e rios numa área da Espanha à Ìndia atuais.

O “Mappa Mundi de Hereford”, desenhado em pele de bezerro por volta de 1300 por Richard of Haldingham and Lafford (Richard de Belllo), segue um rumo mais espiritual. Inspirado na Bíblia, o modelo com locais extraídos das Escrituras, como o Jardim do Éden, orientava uma trajetória introspectiva em busca da fé durante a Idade Média.

As representações geográficas e simbólicas evoluíram com o auxílio da matemática, apesar da resistência conservadora (por um momento mais ligada à Igreja). À medida que terras eram descobertas e os cartógrafos sofisticavam modelos matemáticos, surgiam mapas cada vez mais complexos e precisos.

O cartógrafo francês Oronce Finé, por exemplo, usa em 1531 informações coletadas pelas Grandes Descobertas em sua tentativa de driblar as dificuldades de representar uma superfície esférica num plano bidimensional.  

A coleção aborda aspectos para além das técnicas aplicadas. O sexto volume da série, por exemplo, trata do uso dos mapas como armas políticas, se aproximando da charge moderna, e o oitavo, da cartografia de lugares imaginários, como um Lago do Vinho que leva às ilhas da Boa Reputação e da Alegria.

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