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São evidentes os problemas de "Kin", longa dirigido pelos irmãos gêmeos Jonathan e Josh Baker, a partir do curta "Bag Man", realizado por eles em 2014. E por incrível que pareça, esses problemas são quase todos dinamitados pela ousada mistura de gêneros que compõe a estrutura do filme.
Comecemos pelo lado ético. Colocar uma arma letal nas mãos de uma criança, mesmo que essa criança tenha 14 anos, é sempre uma temeridade que ameaça a coerência dramática. O problema fica na superfície por causa dos crescentes ingredientes de ficção científica que invadem (e explicam) a trama.
Além disso, há uma operação constante de emancipação dessa criança, que a horas tantas é levada pelo irmão adotivo a uma casa de strip-tease, sendo orientada até a dar um punhado de dinheiro a Milly (Zoë Kravitz), uma das dançarinas.
Essa criança, chegou a hora de dizer, é Elijah Solinski (Myles Truitt), filho adotivo de Hal Solinski (Dennis Quaid), e meio irmão do ex-presidiário Jimmy (Jack Reynor).
Elijah ganha uns trocados vendendo o cobre que retira de algumas ruínas da região. Numa dessas ruínas, encontra soldados mortos (um deles decapitado) e uma arma estranha e poderosa, primeiro sinal claro da ficção científica que ocupará cada vez mais a trama.
E aí encontramos o segundo problema: a relação entre Elijah e seu pai adotivo envolve uma mesada tão baixa, apesar dos rendimentos no cofre do pai, que ele é obrigado a recorrer à venda de coisas para comprar um simples calçado.
Envolve mais, na verdade, porque a desilusão do pai com o filho presidiário transborda inexplicavelmente para o filho adotivo, e com isso causa um ruído nas relações familiares.
Esse segundo problema, ao que tudo indica um deslize de roteiro, é atenuado pela troca de registros, do melodrama ao policial e à ficção científica, passando pelo road movie, num coquetel tão descuidado quanto ousado.
E ainda no começo aparece o terceiro problema: a construção dos vilões, sobretudo do líder Taylor Balik (James Franco) —para o qual Jimmy devia US$ 60 mil—, que esbarra na caricatura mais canhestra, e faz com que os confrontos sejam sempre momentos fracos na trama.
Todos esses problemas poderiam jogar por terra qualquer pretensão mais artística que o filme pudesse ter. Uma ênfase no lado melodramático, por exemplo, presente na relação entre os irmãos, seria a sua ruína.
Felizmente, Jonathan e Josh Baker constroem uma redoma de impurezas que protege a narrativa em uma dinâmica escrachada, digna de um bom filme B dos anos 1980.
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