Com filme da Netflix, Alfonso Cuarón é favorito em Toronto

Filme mexicano já venceu em Veneza e é o representante mexicano no Oscar de melhor filme estrangeiro

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Toronto

Aposta do México para o Oscar de produção estrangeira do ano que vem, “Roma”, de Alfonso Cuarón, tem iniciado sua carreira de forma tão positiva que não seria estranho se fosse escolhido para disputar também como melhor filme. Foi o que aconteceu, por exemplo, com “Amor”, de Michael Haneke, que apareceu nas duas categorias em 2013.
 
A obra de Cuarón venceu o Festival de Veneza e é das favoritas a levar o prêmio também em Toronto, onde todas as suas sessões estiveram lotadas –um feito e tanto em um país onde o público não está acostumado a assistir a filmes com legendas.
 
E “Roma” de fato faz jus à toda a rasgação de elogios com que a crítica cinematográfica o tem tratado. Muito superior às estripulias técnicas de “Gravidade”, deve se tornar possivelmente a obra-prima do diretor mexicano de 56 anos.

Para o público brasileiro, sua trama sobre o incontornável abismo social entre uma empregada e seus patrões vai encontrar uma ressonância ainda mais profunda. É quase um “Que Horas Ela Volta?”, de Anna Muylaert, mas com outra proposta estética e narrativa. Produção da Netflix, ainda não tem previsão de lançamento no país.
 
Cleo (Yalitza Aparicio) é uma moça de origem indígena que faz faxina num casarão de classe média alta da capital mexicana no início dos anos 1970. Bem ao estilo latino-americano, ela vive na própria casa em que labuta, numa minúscula edícula aos fundos –mostra de que trabalha num esquema de semiservidão.
 
Registrando tudo em preto e branco e com um apuro estético típico de filme de arte, Cuarón abre o longa mostrando a rotina de Cleo por ali. Ela é quem limpa o quintal, quem ajuda a preparar a comida, quem leva as crianças dos patrões para a escola e quem as põe para dormir também.
 
Do lado dos donos da casa, o diretor explora com alguma ironia seus hábitos. Demora-se a mostrar a manobra que faz o patriarca para tentar estacionar seu Galaxy no corredor estreito da garagem. Ou as brincadeiras de caubói que fazem as crianças na laje do casarão.
 
Cleo observa tudo com a inconsciente resignação de quem sabe que aquelas estruturas centenárias não mudam, e que ela, descendente de um povo espoliado, está fadada a servir aos brancos.
 
Ao se descobrir grávida de um sujeito que não quer assumir o bebê, as perspectivas passam por uma mudança. Mas Cuarón não é um diretor de entregar soluções fáceis ou redentoras. O resultado é um filme dolorido, mas lindamente construído.

 
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