De casa nova, feira de arte destaca obra de mulheres e negros

Em busca de público maior, Semana de Arte troca subsolo do luxuoso hotel Unique por novo lar no parque Ibirapuera

Isabella Menon
São Paulo

Joias de escravas e trabalhos de mulheres ditas empoderadas estão distribuídas pelo Pavilhão das Culturas Brasileiras —prédio arquitetado por Oscar Niemeyer no parque Ibirapuera.

O espaço sedia a segunda edição da feira Semana de Arte —43 galerias montaram seus estandes ali para vender até segunda (3). Após passar pelo luxuoso hotel Unique, o parque é a nova casa do evento.  

A escolha do endereço foi uma forma de tornar o evento mais democrático, afirma Thiago Gomide, galerista e um dos sócios da feira. 

Ao seu lado, uma equipe experiente compõe a direção, entre eles estão a galerista Luisa Strina, o produtor Emilio Kalil e o crítico de arte Ricardo Sardenberg.

Os preços das obras da feira partem de R$ 5.000, como os trabalhos de Alvaro Seixas, que recria a famosa tela “A Negra” com intervenções de frases como “fuck you white modernist” (fodam-se modernistas brancos). As mais caras podem chegar a R$ 2 milhões, como as de nomes como a neoconcretista Lygia Pape. 

Se de um lado está a paródia da icônica obra de de Tarsila do Amaral, do outro estão estudos originais da modernista à venda pela galeria Arte 57.

No estande dessa casa, 41% das artistas destacadas estão na mostra “Mulheres Radicais” da Pinacoteca, que resgata a produção feminina latina dos anos 1960 a 1985 —período marcado por conturbados governos ditatoriais.

Galerias como Jaqueline Martins e Anita Schwartz seguem o script com obras apenas de mulheres, parte delas presentes na Pinacoteca.

Quanto às questões raciais, levantada por mostras no Masp e CCBB, a carioca Portas Vilaseca tem obras de Ayrson Heráclito, que esteve à frente de ‘“Histórias Afro-Atlânticas” e a Gentil Carioca com pinturas de Arjan Martins, que esteve na “Ex Africa”. 

Esculpidas por negros, joias usadas por escravas no século 19 estão à venda pelo marchand Rafael Moraes. Apesar de resgatar esses objetos, ele diz lamentar ter apenas um cliente negro. 

Sobre a seleção voltada para o universo feminino e as influências afrodescendentes, o curador da feira Pablo León de La Barra diz ser “uma tentativa de tapar um buraco que existe não só no mundo artístico como na sociedade”. 

Galerias que fogem desse escopo, mas seguem a seleção de De La Barra, levam medalhões. Como Paulo Kuczynski com obras dos modernistas Ismael Nery e Di Cavalcanti e Nara Roesler com Julio Le Parc e sua arte cinética. 

Semana de Arte
Pavilhão das Culturas Brasileiras, s/n. Tel. (11) 5083-0199. R$ 60. Sáb. (1º) a seg. (3) das 12h às 20h. 

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.