"White Boy Rick" mostra uma Detroit devastada pelo crack, consumido em casarões abandonados de subúrbios outrora abastados. Já "Beautiful Boy" explora as ruas apinhadas de sem-teto de San Francisco, onde a metanfetamina grassa em parques que serviram de lar aos hippies.
A crise dos opioides, que devasta as cidades dos Estados Unidos e faz a overdose ser a causa de morte número 1 entre os jovens do país, resvala em dois dos principais filmes do Festival de Toronto e deve dar as caras no Oscar do ano que vem.
Em meio à epidemia narcótica, os longas colocam no centro da trama uma relação entre pai e filho. Ambos são inspirados em histórias reais, têm diretores europeus e abrem mão de um final redentor, corroborando o pessimismo da atual safra de filmes indie.
Timothée Chalamet, de "Me Chame pelo seu Nome", vive Nic, o belo garoto a que o título de "Beautiful Boy" alude. O nome decorre da canção homônima que John Lennon compôs para o filho caçula, Sean.
Nic tem 18 anos, passa a maior parte do tempo no quarto, ouve Nirvana, lê autores malditos e sente que a realidade é um fardo. Ele começa a experimentar maconha, vai para o LSD, para o ecstasy, para a cocaína e, por fim, descobre a metanfetamina.
Seu pai, interpretado por Steve Carrell em chave dramática, é quem sai no encalço do garoto sempre que ele tem uma recaída e o encontra largado em sarjetas e bares.
O longa do belga Felix Van Groeningen acerta no tom ao não se apoiar em mensagens de superação ou na crença de que a vontade individual de Nic bastaria para acabar com o vício.
Vem também da Europa o diretor da americaníssima trama de "White Boy Rick". O francês Yann Demange, de "71: Esquecido em Belfast", conta a história do lado B do sonho americano.
Richard (Matthew McConaughey) é dos que creem viver num país em que qualquer empreendimento pode dar certo. Mas na empobrecida Detroit dos anos 1980, sua vida é uma sombra disso. O sujeito sustenta sozinho os dois filhos encrenqueiros vendendo armas ilegalmente.
Rick, o filho caçula vivido pelo novato Richie Merritt, aprendeu alguns trambiques com o pai. Quando agentes do FBI manipulam o adolescente a virar um informante para desbaratar as gangues locais, o garoto se aproveita para ele mesmo se impor no tráfico de drogas.
A história não termina bem. Basta dar uma pesquisada no que aconteceu ao verdadeiro Ricky Wershe Jr., que inspira a história desse traficante de 15 anos.
Nas mãos de um cineasta americano, a obra poderia ganhar um verniz motivacional. Com Demange, vira um retrato amargo da terra das aparentes oportunidades.
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