Destaques do Festival de Toronto retratam juventude arruinada pelas drogas

Já cotados ao Oscar, 'Beautiful Boy' e 'White Boy Rick' dissecam a crise dos opioides nos EUA

Guilherme Genestreti
Toronto

"White Boy Rick" mostra uma Detroit devastada pelo crack, consumido em casarões abandonados de subúrbios outrora abastados. Já "Beautiful Boy" explora as ruas apinhadas de sem-teto de San Francisco, onde a metanfetamina grassa em parques que serviram de lar aos hippies.

A crise dos opioides, que devasta as cidades dos Estados Unidos e faz a overdose ser a causa de morte número 1 entre os jovens do país, resvala em dois dos principais filmes do Festival de Toronto e deve dar as caras no Oscar do ano que vem.

Em meio à epidemia narcótica, os longas colocam no centro da trama uma relação entre pai e filho. Ambos são inspirados em histórias reais, têm diretores europeus e abrem mão de um final redentor, corroborando o pessimismo da atual safra de filmes indie.

Timothée Chalamet, de "Me Chame pelo seu Nome", vive Nic, o belo garoto a que o título de "Beautiful Boy" alude. O nome decorre da canção homônima que John Lennon compôs para o filho caçula, Sean.

Nic tem 18 anos, passa a maior parte do tempo no quarto, ouve Nirvana, lê autores malditos e sente que a realidade é um fardo. Ele começa a experimentar maconha, vai para o LSD, para o ecstasy, para a cocaína e, por fim, descobre a metanfetamina.

Seu pai, interpretado por Steve Carrell em chave dramática, é quem sai no encalço do garoto sempre que ele tem uma recaída e o encontra largado em sarjetas e bares.

O longa do belga Felix Van Groeningen acerta no tom ao não se apoiar em mensagens de superação ou na crença de que a vontade individual de Nic bastaria para acabar com o vício.

Vem também da Europa o diretor da americaníssima trama de "White Boy Rick". O francês Yann Demange, de "71: Esquecido em Belfast", conta a história do lado B do sonho americano. 

Richard (Matthew McConaughey) é dos que creem viver num país em que qualquer empreendimento pode dar certo. Mas na empobrecida Detroit dos anos 1980, sua vida é uma sombra disso. O sujeito sustenta sozinho os dois filhos encrenqueiros vendendo armas ilegalmente. 

Rick, o filho caçula vivido pelo novato Richie Merritt, aprendeu alguns trambiques com o pai. Quando agentes do FBI manipulam o adolescente a virar um informante para desbaratar as gangues locais, o garoto se aproveita para ele mesmo se impor no tráfico de drogas. 

A história não termina bem. Basta dar uma pesquisada no que aconteceu ao verdadeiro Ricky Wershe Jr., que inspira a história desse traficante de 15 anos.

Nas mãos de um cineasta americano, a obra poderia ganhar um verniz motivacional. Com Demange, vira um retrato amargo da terra das aparentes oportunidades.

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