Estudante do interior do Ceará vê sua criação viralizar como símbolo da campanha #EleNão

Sem pretensões, Militão Queiroz fez identidade visual espontânea de movimento apoiado por Madonna

Eduardo Moura
São Paulo

O movimento #EleNão, de oposição à candidatura de Jair Bolsonaro (PSL), ganhou o apoio de uma escala de celebridades que vai de Madonna a Sônia Braga. Mas foi de um anônimo do interior do Ceará que o protesto recebeu sua identidade visual espontânea.

Estudante de letras na Universidade Estadual do Ceará, em Limoeiro do Norte, Militão Queiroz, 32, criou o letreiro que flutua em um céu estrelado, deixando um rastro de arco-íris, em 13 de setembro. A peça remete à bandeira do movimento LGBT, mas também lembra o “Nyan Cat”, meme de 2011 em que um gato solta um arco-íris pelo traseiro..

Autodidata, Militão diz que não é designer. “Prefiro me identificar como um artista.” A ilustração foi feita em um programa simples e gratuito, o PhotoScape. O estudante não levou mais do que uma hora para concluí-la.

“Não uso nenhuma ferramenta profissional que os designers usam. Começou como um hobby, desde a época do Orkut, e vem se tornando minha profissão”, afirma o estudante, que se dedica ao trabalho de conclusão de curso na faculdade e administra a Stay Cool, sua lojinha online em um site colaborativo.

Como influências, cita Jay Roeder e Aline Albino, que usam a técnica de “hand lettering” —a boa e velha caligrafia—, além de Madonna, que “é e sempre será um ícone” para ele. Nesta sexta (28), a cantora aderiu à campanha e compartilhou em seu stories no Instagram a hashtag #EleNão, mas com uma imagem dela amordaçada no lugar da arte de Queiroz.

O post dele foi replicado por nomes como a candidata a vice-presidente Manuela D’Ávila (PC do B) —cujo post teve 100 mil likes—, a cantora Daniela Mercury (27 mil), a atriz Fernanda Lima (92 mil) e a cantora Pabllo Vittar (506 mil).

Na última terça-feira (25), a cantora Maria Gadú foi ao Prêmio Multishow de Música Brasileira vestindo uma camiseta estampada com a ilustração de Queiroz.

A peça foi compartilhada, em grande parte, sem que ele fosse creditado, mas o autor diz não ligar. “O importante é divulgar o movimento e a tag. Só fico desapontado quando vejo pessoas se apropriando da imagem de forma distorcida, como o MBL fez”, diz. 

Kim Kataguiri, coordenador do MBL (Movimento Brasil Livre), fez um vídeo —com quase 700 mil visualizações— que inicia com a ilustração de Militão Queiroz. O ativista faz o que parece ser um discurso anti-Bolsonaro: “Ele é homofóbico [...], machista [...], faz piadinha com estupro”. No final, é revelado que o “ele” a quem Kataguiri se refere é Lula.

Queiroz diz que não é filiado a partidos políticos, mas que simpatiza com os que apoiam as lutas das minorias.

Manifestaram-se contra Bolsonaro Sasha Meneghel, Bruna Marquezine, Caetano Veloso, Nanda Costa, Claudia Raia, Deborah Secco, Gal Costa, Camila Pitanga, MC Carol, Débora Falabella, Marina Lima —a lista é extensa.

Anitta, após pressão de fãs e da cantora Daniela Mercury, acabou cedendo. Marília Mendonça entrou na onda, mas acabou voltando atrás, após ameaças direcionadas a ela e a sua família na internet.


Fora do Brasil, além de Madonna, Cher, a atriz Ellen Page, o comediante Stephen Fry, as cantoras Dua Lipa e Nicole Scherzinger e o vocalista da banda Imagine Dragons, Dan Reynolds, replicaram a tag.

 

Outros artistas visuais também fizeram peças que se multiplicaram nas redes sociais.

A artista plástica, joalheira e poeta Mana Bernardes usou sua caligrafia característica para apoiar o movimento. “Fiz com muita força, um ‘O’ muito grande. Nunca tive tantos comentários.”
No domingo (23), reproduziu a mesma arte na sua coxa. “A questão da pele é muito importante para nós, mulheres”, afirma.

O post foi compartilhado pelas atrizes Camila Pitanga, Maria Casadevall, Alessandra Negrini e Letícia Colin. Juntas, as postagem somam 285 mil curtidas.

O poeta e designer André Vallias apostou na poesia concreta para se manifestar. Fez uma imagem do alfabeto. Nela, estavam todas as letras, mas o “L” não —uma brincadeira sonora com o #EleNão. 

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