Fluida combinação de soul e funk de Lenny Kravitz se une ao rock em disco

No novo álbum 'Raise Vibration', músico lembra que Johnny Cash o consolou quando sua mãe morreu

Thiago Ney
São Paulo

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Uma das 12 faixas do novo disco de Lenny Kravitz tem como título "Johnny Cash". Causa certa estranheza, porque Johnny Cash não está entre os nomes que normalmente são apontados como inspirações do músico americano, como Led Zeppelin, Kiss, Sly & the Family Stone, Prince e Rolling Stones.

Mas está lá, em "Raise Vibration", o 11º disco de Kravitz, que sai agora no mundo todo: "Johnny Cash", uma balada com pouco mais de seis minutos de duração. No dia em que morreu Roxie Roker, atriz e mãe do cantor, em dezembro de 1995, Kravitz estava hospedado na casa do lendário produtor Rick Rubin.

Também estavam por ali Cash e a mulher, June —​Rubin estava gravando "American Recordings 2: Unchained", disco de Cash. "Essa música é sobre uma situação triste que me aconteceu, trata de como às vezes precisamos de algumas pessoas em nossas vidas", conta Kravitz.

"Minha mãe estava muito mal em um hospital de Los Angeles e eu saí de lá para tomar um banho. Quando cheguei em casa, me ligaram dizendo que ela tinha morrido. Na mesma hora, Johnny e June desciam a escada e me perguntaram o que tinha acontecido. Eu contei, e então os dois me abraçaram. Me consolaram, disseram coisas muito bonitas", lembra o cantor.

Enquanto "Johnny Cash" é uma balada melancólica, o primeiro single do disco, "It's Enough", é uma das mais incisivas faixas da carreira do autor de músicas como "Are You Gonna Go My Way". Chama a atenção para racismo, corrupção, ganância.

"Bem, a letra meio que reflete os tempos em que estamos vivendo. Como estamos nos trapaceando e trapaceando o planeta. Como os poderosos não se importam com o restante das pessoas, apenas em ganhar mais dinheiro e mais poder."

Já em "Who Really Are the Monsters?" Kravitz criou uma de suas mais ambiciosas músicas, em que a dinâmica das guitarras se contrapõe a uma percussão festiva.

"Eu realmente amo essa música, fica muito boa ao vivo. E quem são os monstros? Podem ser nós mesmos, os diabos que existem dentro de nós", diz o cantor.

De certa forma, "Raise Vibration" é um dos discos mais fortes de Kravitz, em que a influência do rock está bem presente, em uma combinação fluida com o soul e o funk que caracterizam o espírito da carreira de Kravitz. Aparece quatro anos depois de "Strut".

E como ele vê o rock atualmente, em que o gênero parece perder terreno para rap, R&B e pop?

"A música está sempre mudando. Há vários grupos novos tocando rock muito bom. O mainstream está tomado por rap e pop, verdade, mas as coisas sempre mudam e vão continuar mudando. Isso acontece porque a indústria está interessada em investir em outro tipo de música. Vamos ver mais para a frente", afirma.

"Muitos dos caras do rap vivem como se fossem rock stars, eles têm uma alma do rock and roll, se apropriam da estética do rock, mesmo não fazendo rock."

Questionado sobre planos para shows no Brasil, Kravitz diz que está negociando tocar no Lollapalooza em 2019.

Com 11 discos nas costas e 54 anos de vida, Kravitz afirma que envelhecer não é algo que o incomode. "Não acho que eu esteja ficando velho. Não sinto a idade que tenho, não me preocupo com o tempo. Não estou ficando velho, estou ficando melhor."

Raise Vibration

Artista: Lenny Kravitz. Gravadora: Sony. R$ 25 (CD)

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