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Giorgio Armani defende megalomania em tempos de mesmice no tapete vermelho

Estilista octogenário arma desfile faraônico em aeroporto para mostrar que continua voando alto

Modelos desfilam nova coleção da grife Emporio Armani no aeroporto de Linate, em Milão

Modelos desfilam nova coleção da grife Emporio Armani no aeroporto de Linate, em Milão Stefano Rellandini/Reuters

Pedro Diniz
Milão

Chega um ponto na carreira de um criador que, depois de esvaziar todas as possibilidades de mudar o jogo em sua área, só resta fazer uma celebração egocêntrica. 

Os caminhos para isso vão de retrospectivas em museus a autobiografias. Mas o que fazer quando tudo isso já foi feito? Giorgio Armani, 84, achou que era hora de —literalmente— alçar voo ainda mais alto.

Último bastião vivo e na ativa de toda a moda italiana, Armani usou toda sua influência e uma fatia dos bilhões de dólares acumulados em mais de 40 anos de trajetória para montar em seu hangar particular do aeroporto de Linate, no coração de Milão, o desfile da grife Emporio Armani.

Foram necessários quatro meses de planejamento para um entra e sai de 150 funcionários que montaram a estrutura gigantesca, na qual se sentaram 2.300 pessoas para, além das roupas, acompanhar um show inteiro do cantor pop britânico Robbie Williams.

A razão oficial para a megalomania, que fechou o portão de embarque A17 para os fashionistas enquanto voos noturnos pousavam e decolavam na pista, era o fato de pela primeira vez as linhas masculina e feminina serem apresentadas juntas. O motivo real era mesmo causar, nesse caso, um “impacto simbólico”, como disse o estilista ao repórter.

“Acho que o aeroporto une diferentes culturas, onde todos estão juntos criando uma oportunidade para se aventurar, experimentar um senso de liberdade. Queria traduzir isso do ponto de vista de um marca que é feita para todo mundo”, afirma o designer.

Dinâmico, com vários modelos entrando e saindo em grupos, o desfile durou quase meia hora para reafirmar os códigos do “active wear” da Emporio Armani, um tipo de roupa mais esportiva com viés clássico que pode ser usado tanto na rua quanto na festa. 

“Não é uma coleção inspirada num aeroporto, mas nos viajantes, coisa que todos somos no mundo”, exemplifica. Mas não se trata de um viajante como ele, é claro. 

Além das iniciais impressas em todo tipo de produto de moda, a imagem do homem de cabelos brancos, pele queimada de sol e sempre vestido de preto —“prefiro vestir um uniforme que não distraia a atenção dos outros, simples assim”— roda os tabloides mostrando o estilista ora a bordo de seu iate, ora em alguma festa formal numa das megalópoles do mundo.

“Realmente já visitei o mundo inteiro. O mapa preenchido no meu escritório prova isso”, brinca o designer, que, por mais que hoje saia por aí comprando prédios para transformá-los em hotéis de luxo, afirma sempre voltar para os mesmos lugares.

“Só relaxo mesmo em lugares onde tenho casas [ele não diz quantas], como em minhas amadas Pantelária [ilha da Sicília] e Antigua [no Caribe]. Gosto dos lugares que me encantaram no passado e fiz deles meus. Em cada viagem, mesmo já tendo visitado antes, olho as coisas com olhar fresco, tento transformar numa experiência única”.


Esse olhar plural fez seus detratores tentarem desvincular seu nome da moda italiana. De fato, Armani não se encaixa exatamente no imaginário de estampas e fendas das passarelas milanesas, porque está mais para a alfaiataria clássica vista nos filmes “Gigolô Americano”, de 1980, e “O Lobo de Wall Sreet”, de 2013, para os quais fez o figurino.

“Nunca pensei na moda em termos nacionalistas, mesmo acreditando que as raízes do meu estilo sejam italianas. Vejo minha moda mais como um espírito internacional.”

Tão internacional que chegou aos tapetes vermelhos, domínio das grifes francesas e americanas. Elas detêm um ideal de glamour mais vinculado às tendências da estação e não fazem a cabeça do estilista. O teor minimalista das formas agrada atrizes como Cate Blanchett e Nicole Kidman, clientes para as festas do Oscar e do Globo de Ouro.

“Hoje, os tapetes vermelhos estão todos muito iguais. Vou tentando fazer do meu jeito, com minha ideia de sofisticação, uma elegância mais naturalista”, afirma Giorgio Armani.

Não que por causa dessa uniformização do estilo ele pense em parar de trabalhar —“trabalho na maior parte do tempo, talvez até demais”— ou se sinta menos criativo —“até porque, muitas das coisas que estão fazendo, como estampar logotipos, especialmente os gigantes, fui um dos primeiros a fazer”—, mas, pouco a pouco, ele vai dando importância a voos mais baixos.

“Qualquer tempo para descansar está sendo mais importante para eu me recuperar e continuar seguindo adiante.

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