Jodie Foster envelhece para papel de médica alcoólatra em ficção futurista

Com 'Hotel Artemis', atriz interrompe um hiato de cinco anos sem atuar

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Los Angeles

Jodie Foster entra no quarto do hotel Four Seasons, em Los Angeles, apoiada nas mesmas muletas que exibiu no Oscar, em março. "Não foi nada. Um acidente de esqui. Vou seguir esquiando da mesma maneira", diz a atriz.

Jodie Foster em "Hotel Artemis" (2018)
Jodie Foster em "Hotel Artemis" (2018) - Divulgação

Não quer fazer um dramalhão do episódio. Uma característica que a fez transitar por Hollywood desde criança sem grandes traumas e sem papéis impostos pela indústria, como a dona de casa indefesa ou a namoradinha do herói.

Mas é essa exigência que também afasta a dona de dois prêmios Oscar de melhor atriz, por "Acusados" (1988) e "O Silêncio dos Inocentes" (1991), cada vez mais da frente das câmeras.

Ao protagonizar a ficção científica "Hotel Artemis", que estreia nesta quinta, Foster interrompe um hiato de cinco anos sem trabalhar como atriz —o último papel foi em "Elysium", de Neil Blomkamp. "Decidi me concentrar na carreira de diretora", diz ela à Folha, citando seus trabalhos no longa "Jogo do Dinheiro" (2016) e nas séries "Black Mirror", "House of Cards" e "Orange Is the New Black". "Só farei um filme como atriz se o achar muito bom. Após 52 anos atuando, posso dizer finalmente que só vou fazer o que gosto."

Nesta estreia do diretor e roteirista Drew Pearce, ela interpreta a personagem Nurse (enfermeira, em inglês), uma ex-médica que virou alcoólatra ao perder o filho. Ela comanda o Hotel Artemis, espécie de refúgio e hospital para criminosos que pagam mensalidades em dia.

"O cinema atual parece um pastiche de franquias repetitivas. Essa combinação de distopia futurista com uma visão estilo Wong Kar-wai de Los Angeles é muito atrativa."

Mas o papel não foi tão fácil de conseguir. Depois de convencer Pearce a contratá-la, os executivos não ficaram satisfeitos com a aparência mais velha da personagem.

"Foi meu instinto fazê-la dessa maneira", diz a atriz. "Precisei lutar para manter esse visual. Não foi uma decisão popular. Mas há uma beleza na forma como isolamento e traumas afetam o físico. Não queria perder isso."

O longa teve um orçamento de US$ 15 milhões (R$ 62 mi), minúsculo para uma ficção futurista. O visual de Nurse permaneceu, mas não houve espaço para outros exageros.

Obviamente Jodie Foster, 55, já passou por todas as experiências desde que estreou em um comercial de bronzeador aos três anos. "Era um negócio familiar", lembra ela.

Ainda criança, trabalhou com Martin Scorsese em "Taxi Driver" (1976), quando recebeu a primeira indicação ao Oscar. Assumiu a direção aos 29 com "Mentes que Brilham" (1991). E saiu do armário ao receber um prêmio no Globo de Ouro, em 2013.

"Não sei qual o segredo dessa longevidade", diz. "Minha mãe falava que minha carreira como atriz teria fim, então passei a vida achando que faria algo além do cinema."

Mesmo sendo uma pioneira em Hollywood, Foster é ponderada sobre o momento na indústria com os movimentos feministas, como o MeToo.

"Como mulher, sei como o mundo nos vê. Sim, sentia que precisava trabalhar duas vezes mais para alcançar o mesmo sucesso de um homem. Mas também tive verdadeiros pais nesta indústria", diz a atriz. "Estamos em um momento de transição e precisamos saber o próximo passo, porque não vamos colocar metade da população na cadeia. Precisamos nos curar para mudar."

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