Longa de Paul Greengrass rememora atentado terrorista na Noruega

Filme conta o atentado a bomba ao prédio do governo em Oslo e massacre de 69 jovens na ilha de Utøya

Guilherme Genestreti
Toronto

A programação do Festival de Toronto foi engrossada com a exibição de “22 July”, thriller do britânico Paul Greengrass que reconta o atentado a bomba ao prédio do governo em Oslo e o subsequente massacre de 69 jovens na ilha norueguesa de Utøya, em 2011.

O crime foi levado a cabo por um norueguês de extrema direita, Anders Behring Breivik, opositor do multiculturalismo e da política migratória de seu país. 

A maioria das vítimas fazia parte da juventude do partido trabalhista da Noruega, de inclinação de esquerda.

Por coincidência, o longa é lançado no mesmo ano que outra obra sobre o mesmo episódio foi exibida no Festival de Berlim, “Utøya 22. Juli”, do norueguês Erik Poppe.

Os dois filmes não poderiam ser mais diferentes.

Poppe fez uma escolha cinematográfica que abre para discussões éticas. Seu longa é todo construído como um falso plano-sequência, com a intenção evidente de colocar o espectador na ilha e vivenciar o massacre de 2011 como se em tempo real.

Breivik não aparece, senão como um vulto à distância, praticando tiro ao alvo, em meio a gritos incessantes. O resultado parece um videogame sádico que tem por objetivo, segundo o diretor, “mostrar que por 72 minutos aqueles jovens estiveram sozinhos”, segundo disse na Alemanha.

Greengrass quer outra coisa, ainda que ele também seja afeito a filmar tragédias, como “Voo United 93”, ambientado durante o 11 de Setembro, e “Domingo Sangrento”, sobre os embates entre irlandeses e ingleses nos anos 1970.

Nessa produção da Netflix, com atores noruegueses falando em inglês, o atentado terrorista ocupa a primeira metade da trama; a outra é dominada pelas consequências do episódio, trauma na história do país nórdico. 

Breivik, que não dá as caras na obra de Poppe, é mostrado à exaustão no longa exibido no Festival de Toronto. O radicalismo do terrorista é um dilema para seu advogado, obrigado a defendê-lo por dever de ofício. Do lado das vítimas, acompanha-se a recuperação dolorida de um dos jovens sobreviventes.

A marca visual de Greengrass está ali, a câmera que ele chama de incauta e que perscruta os acontecimentos com alguns segundos de atraso, uma herança de seu trabalho no telejornalismo. 

Nisso, alcança um resultado que é o oposto do almejado pelo norueguês Poppe —ele prefere que o público seja testemunha, e não vítima.

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