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Machado de Assis descartou sabiamente versos do hino nacional

Com tom extremamente laudatório, escritor caracteriza hiperbolicamente D. Pedro 2º como gigante do Brasil

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ANTONIO CARLOS SECCHIN

Graças a incansável operosidade e a constante devoção à causa machadiana, o pesquisador Felipe Rissato nos brinda com texto até agora ausente da bibliografia de Machado de Assis: um poema publicado unicamente no ano de 1867, em periódico de Florianópolis (à época, Desterro).

Antes de se tornar consumado mestre da narrativa, Machado de Assis foi aplicado aprendiz de poesia.
Em 1864, estreara em verso com “Crisálidas”, de acentuada fatura romântica.

Como se sabe, a lírica do autor oscilou entre o romantismo algo tardio das publicações poéticas iniciais —além de “Crisálidas”, “Falenas” (1870) e “Americanas” (1875)— e o parnasianismo das derradeiras produções, enfeixadas em “Ocidentais”, obra sem publicação autônoma, porém inserida, com as anteriores, em “Poesias”, de 1901.

Sabiamente, Machado descartou a inclusão, no volume de 1901, desse recém-descoberto hino nacional, bem como de outras peças da chamada poesia de circunstância, que, a rigor, nada acrescentam ao legado do artista, constituindo-se, porém, em mananciais que podem —como no caso— explicitar posições políticas muitas vezes apenas subentendidas em textos de maior complexidade e sutileza.

O escritor Machado de Assis
O escritor Machado de Assis - Reprodução

Os versos, indicadores do entusiasmo do jovem Machado pela figura do imperador dom Pedro 2º, agrupam-se em sete estrofes de sete versos, com rimas de palavras monossilábicas ou então oxítonas, ditas “agudas”, nos versos pares. A rigor, contabilizam-se apenas quatro estrofes originais, na medida em que uma delas, a primeira, repete-se ainda outras três vezes. 

O tom é extremamente laudatório, descambando na caracterização hiperbólica do monarca como “gigante do Brasil”, “grande Imperador”, “colosso Imperial”.

O mais curioso, porém, é que o eu lírico, supostamente porta-voz do povo brasileiro —afinal, trata-se de um hino da nacionalidade—, emite seu discurso a partir de local inusitado: “Das florestas em que habito”.

Avulta, portanto, uma perspectiva nativista ou indianista que ainda iria ocupar o autor por alguns anos, elevando o tema à condição de eixo principal de “Americanas”.

A floresta e o trono se enlaçam sem qualquer obstáculo ou mediação, como se a monarquia fosse o desdobramento “natural” de um desejo latente na virgem terra brasileira. A produção madura de Machado de Assis decerto descartaria associações com tal teor de simplificação.

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