Morre aos 93 o arquiteto e teórico Robert Venturi, pai do pós-modernismo

Com a mulher, Denise Scott Brown, assinou projetos e livros como 'Aprendendo com Las Vegas'

Foto de Las Vegas de Robert Venturi e Denise Scott Brown Robert Venturi e Denise Scott Brown

Francesca Angiolillo
São Paulo

O estudo de Las Vegas, com seus luminosos, fontes e estacionamentos, era, para Robert Venturi, tão importante quanto a compreensão da Europa medieval ou da antiguidade clássica.

Isso não quer dizer que o arquiteto e teórico que escreveu “Aprendendo com Las Vegas” ao lado de sua mulher, Denise Scott Brown e de Steven Izenour, defendesse a colocada de feéricos néons pelas cidades afora da mesma forma como se procura reproduzir, até hoje, a praça italiana. Tratava-se de entender os significados dos símbolos.

O livro de 1972 que busca entender as virtudes da Strip, principal avenida de Las Vegas, fez a fama de Venturi, morto aos 93 anos na terça (18), e o eternizou como pai do pós-modernismo.

Já em “Complexidade e Contradição em Arquitetura”, de 1966, ele sintetizara, em uma frase provocativa, o que tinha a dizer sobre o modernismo.

“Less is a bore”, algo como “menos é chato” era a resposta do americano a “Less is more”, menos é mais. Tanto quanto a sentença original de Mies van der Rohe, papa alemão do modernismo, a de Venturi carregava em poucas palavras o sentido de toda uma época.

A época de Venturi começara no pós-Guerra, em que gradualmente ocorreu o refluxo da arquitetura e do urbanismo propostos pelos Congressos Internacionais da Arquitetura Moderna, a crença absoluta no racionalismo, cujo nome maior era o do franco-suíço Le Corbusier.

Nascido em 25 de junho de 1925, na mesma Filadélfia onde cresceu e morreu, Robert Charles Venturi  Jr. estudou arquitetura na Universidade de Princeton.

Em 1944, quando chegou, o curso era ligado ao departamento de arte e arqueologia, o que alimentou seu interesse pela história da arquitetura. 

Esse interesse fundaria a sua forma de reagir à pureza do movimento que originou o estilo internacional, com suas casas como caixas brancas e janelas em fita, habitadas pelo homem do futuro —cuja existência a realidade da guerra negou brutalmente.

Seus primeiros trabalhos foram com modernistas fora da linha, Eero Saarinen, popularizado pela mesa oval que leva seu nome, e Louis Kahn, que cultivava certo aspecto místico aliado ao rigor geométrico em sua arquitetura.

Uma bolsa de estudos o levou por dois anos a Roma. Na volta da Europa, conheceu Scott Brown, como ele professora na Universidade da Pensilvânia. Casaram-se em 1967.

Os dois trabalharam juntos a partir de 1969, no escritório que Venturi havia estabelecido com John Rauch. 

Juntos, também foram professores em Yale. Juntos, assinaram prédios com desenhos que remetiam a frontões e frisos de templos gregos, como o Museu de Arte de Seattle, de 1991 —ano em que Venturi recebeu o Pritzker, considerado o Nobel da arquitetura. 

Em seu discurso, agradeceu a honraria como se ela fosse dada também a sua mulher, excluída do reconhecimento.

O arquiteto Robert Venturi e a mulher, Denise Scott Brown - Reprodução

Robert Venturi dizia que usava a história como referência, não como inspiração. Apesar disso, sua influência derivou em um sem-fim de cópias meramente formalistas, espalhadas mundo afora.

Venturi, que tinha Alzheimer, morreu ouvindo Beethoven, segundo disse ao New York Times o urbanista James Venturi, seu único filho com Denise Scott Brown.

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