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Livros

Paulo Henriques Britto trabalha com repertório rico em surpresas

Poeta e tradutor acaba de lançar 'Nenhum Mistério', sua volta à poesia após seis anos

O poeta Paulo Henriques Britto
O poeta Paulo Henriques Britto - Lucas Seixas/Folhapress
RODRIGO GARCIA LOPES
São Paulo

O título do novo livro de Paulo Henriques Britto foi tirado de sua tradução de um verso de “Uma Arte”, poema famoso da americana Elisabeth Bishop: “A arte de perder não é nenhum mistério”.

Ele serve como chave de leitura importante, pois o tema da perda e da ausência (do sentido, das certezas, do tempo, de coisas e pessoas) é elaborado desde o poema de abertura (“Nenhuma Arte”) até o último (“Ao Sair da Sala”). Neste, dialoga diretamente com Wallace Stevens, outro poeta que Britto traduziu com brilhantismo.

O volume também apresenta, como tem sido praxe em seus livros, algumas autotraduções (poemas seus em inglês vertidos para o português e vice-versa).

O tema da perda e da ausência (do sentido, das certezas, do tempo, de coisas e pessoas) é elaborado desde o poema de abertura até o último.

Neste, dialoga diretamente com Wallace Stevens, outro poeta que Britto traduziu com brilhantismo. O volume também apresenta, como tem sido praxe em seus livros, algumas “autotraduções” (poemas seus em inglês vertidos para o português e vice-versa).

Estão presentes a questão da representação e do sentido, a reflexão sobre a linguagem e sua relação com o mundo, a possibilidade da poesia ainda dizer, “pós-tudo”, coisas novas, não óbvias.

O leitor testemunha o “fracasso” da poesia a rondar cada palavra, sempre sob um olhar irônico e mordaz: “A essa altura, desistir / não é mais uma alternativa: / o fracasso se tornou / a própria textura da vida, // e a hipótese do acerto / não entra sequer no cálculo. / Assistir à própria queda / agora é todo o espetáculo”.

Os poemas metalinguísticos, que Britto domina com maestria, dão lugar a outros que propõem uma investigação poética da experiência da consciência, daquilo que o neurocientista Antonio Damasio chamou de “a sensação do que acontece”.

Por exemplo, quando o autor escreve, em “Nenhuma Arte”: “Uma vida inteira passada / dentro dos confins de um corpo / junto ao qual vem atrelada / a consciência, peso morto / que acusa o golpe sofrido / e cochicha ao pé do ouvido / depois que o fato se deu: / nada que te pertence é teu”.

Um músico das palavras e um dos principais poetas brasileiros, Britto trabalha com um repertório de temas limitado, mas, nem por isso, menos rico em surpresas e desafios para o leitor.

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