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Plataforma gratuita semelhante à Netflix reúne ensaios literários de intelectuais

Site Artepensamento dá acesso a textos de autores como Maria Rita Kehl e Paulo Leminski

Eduardo Moura
São Paulo

​Artepensamento é uma plataforma gratuita que lembra a Netflix, porém composta de textos e entrevistas.

São 315 ensaios de 124 autores diferentes —entre eles, Jorge Coli, Paulo Leminski, Celso Lafer, Eugênio Bucci, Maria Rita Kehl, Marilena Chaui e Francis Wolff.

O site, que já está no ar (artepensamento.com.br), será lançado oficialmente neste sábado (22), às 11h, no cineteatro do IMS Paulista, em São Paulo.

Site Artepensamento, criado por Adauto Novaes
Site Artepensamento, 'Netflix' de ensaios literários, criado por Adauto Novaes - Reprodução

A apresentação da plataforma será seguida de uma conversa sobre o tema “pensamento e técnica”, com o filósofo Franklin Leopoldo e Silva e os jornalistas Eugênio Bucci e Marcelo Coelho, este último colunista da Folha.

O IMS bancou essa primeira fase de produção do site, por meio de uma doação direta, ou seja, sem programas de renúncia fiscal. Adauto Novaes, idealizador do Artepensamento, conta que há três anos tentava financiamento via Lei Rouanet, mas não conseguiu nenhum interessado.

Após essa primeira fase, o objetivo é disponibilizar, ao todo, 800 textos no site. Para essa segunda operação, Novaes calcula que precisará de algo em torno de R$ 450 mil, para serem gastos com despesas técnicas e de pessoal. De onde virá esse dinheiro, ele ainda não sabe responder.

Questionado sobre o porquê da criação do site, Novaes, ri e diz: “Porque eu acho que o pensamento está em baixa”. 

Segundo ele, a função da plataforma é trazer reflexão para o meio digital, que, devido ao excesso de informação disponibilizada, “afasta a possibilidade da reflexão”.

Além disso, quis dar tração ao legado dos ciclos de palestras que ele organiza há mais de três décadas. “As novas gerações não sabem da existência desses grandes pensadores e desses ensaios.”

Novaes ganhou projeção ao lançar, em 1986, um ciclo de conferências, realizadas anualmente desde então. Com temas como “paixão”, “olhar” e “desejo”, as conferências ocorrem em São Paulo e no Rio de Janeiro. Também costumam passar por outras cidades, como Brasília, Belo Horizonte e Salvador, mas não necessariamente todos os anos.

Inicialmente, os ciclos giravam em torno do tema “crise”, mas hoje em dia trabalham com a ideia de “mutação”.

“De 12 anos para cá, eu resolvi mudar um pouco a rota da reflexão. O que acontece no mundo ocidental não é uma crise, mas uma grande mutação —na política, na ética, nas mentalidades. E isso é produzido segundo a lógica dos meios digitais”, diz.

E foi dessa inflexão temática que surgiu a ideia do site recém-lançado. “Seria uma incoerência nossa refletir sobre a mutação dos novos meios e não utilizar o meio digital”.

Adauto Novaes em Humaitá no Rio de Janeiro
Adauto Novaes em Humaitá no Rio de Janeiro - Zô Guimarães/Folhapress

Os textos do site foram feitos dentro do âmbito das conferências. Muitos foram aglutinados em livros.

O último ciclo, de nome “A Outra Margem da Política”, aconteceu de maio a junho de 2018 e teve palestras com nomes como Lilia Schwarcz, Marilena Chaui, Maria Rita Kehl, Renato Janine Ribeiro, Eugênio Bucci e Vladimir Safatle, colunista da Folha.

O ciclo de conferências de 2019, porém, é incerto, pois ainda não há nenhuma sinalização de patrocínio, de acordo com o curador.

Mesmo na crise, Adauto Novaes é otimista. “A gente nunca deixou de fazer, mesmo sem Lei Rouanet.” Os ciclos sobreviveram com patrocínios e com a boa vontade de alguns dos participantes. “Muitos dos conferencistas chegaram a abrir mão do cachê”, diz.

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