Descrição de chapéu Artes Cênicas

Aliança Francesa inaugura sala de teatro paralela com obra de Plínio Marcos

Peça 'Quando as Máquinas Param' estreia nesta sexta (12) com trio egresso do grupo Tapa

Marcelo Ullmann
São Paulo

​O ano era 1975. A peça inédita “Abajur Lilás”, de Plínio Marcos, estava pronta para estrear no teatro Aliança Francesa, na região central de São Paulo. A direção era de Antônio Abujamra. Faziam parte do elenco Lima Duarte e Walderez de Barros, então casada com o dramaturgo.

 
Às vésperas da primeira apresentação, porém, a obra foi interditada. Os censores consideraram que o texto tinha natureza política e “emitia uma mensagem de incerteza, conformismo doentio e falta de crença num futuro melhor”, de acordo com o parecer.
 
Agora, mais de 40 anos após o episódio, as palavras de Plínio voltarão, sem o risco iminente de censura, ao prédio da Aliança, na rua General Jardim, na República.
 

A instituição vai inaugurar, nesta sexta (12), uma nova sala de teatro com a peça “Quando as Máquinas Param”. Chamado de ateliê, o espaço terá lugar para 50 pessoas e funcionará no segundo andar —o teatro principal fica no térreo.

Diferentemente de outros textos de Plínio, “Quando as Máquinas Param” não mostra a violência de forma tão explícita. A peça conta a história de um casal de periferia aparentemente comum. O marido, Zé, brincalhão e divertido, torna-se agressivo à medida que a situação de penúria se agrava em razão do desemprego. E sua relação com a esposa, Nina, vai se deteriorando.

“Os textos de Plínio, e especificamente este, continuam impressionantemente atuais e contundentes”, afirma Oswaldo Mendes, amigo e biógrafo do escritor, que fez a supervisão artística da encenação.

Segundo ele, a grande qualidade do dramaturgo santista era não ser demagógico. “Ele fazia um retrato da realidade sem colocar legenda. Mostrava as situações como um repórter.”

Para Mendes, o diretor da montagem, Augusto Zacchi, acertou em não adaptar o texto. “Parece que o Plínio escreveu para pensar nos tempos de hoje. Por isso, não precisa atualizar nada. A história daquele casal fala por si”, diz.

Tanto Zacchi quanto os atores da peça, Cesar Baccan e Carol Cashie, são egressos do grupo Tapa, que estabeleceu residência artística no teatro Aliança Francesa entre 1986 e 2002. O primeiro atuou em “Gata em Telhado de Zinco Quente” (2016) e os outros dois estiveram em “Anti-Nelson Rodrigues” (2013).

Comemorando seus 40 anos, a companhia dirigida por Eduardo Tolentino voltará ao local com uma nova montagem em janeiro de 2019.

Baccan afirma que o Tapa foi sua grande escola, mas que chegou à conclusão de que era o momento de ter autonomia artística.  Produtor do espetáculo, foi ele quem primeiro vislumbrou a possibilidade de transformar uma sala da Aliança em teatro.

Lívia Carmona, coordenadora de programação da instituição, gostou da ideia, que logo foi aprovada pelo comitê cultural. A expectativa é de que a sala tenha programação permanente.

Assim, o importante teatro da rua General Jardim, fundado em 1964, e que já recebeu grandes artistas como Antunes Filho, Marília Pêra, Beatriz Segall e Sérgio Cardoso, ganha um par, mais adequado a espetáculos intimistas.

Teatro

Quando as Máquinas Param

Drama

Escrita durante a ditadura militar, em 1967, a peça de Plínio Marcos fala sobre recessão e desemprego. Na trama, um homem vê sua relação com a mulher se degradar à medida em que o tempo passa e ele segue sem trabalho.

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