Descrição de chapéu Moda

Blogueira Lala Rudge leva gelo da joalheria Tiffany & Co. após apoiar Bolsonaro

Luciana Tranchesi, Nati Vozza e Luisa Accorsi também subiram no palanque virtual; marcas acendem sinal vermelho

Pedro Diniz
São Paulo

A militância de Jair Bolsonaro (PSL) nas redes sociais chegou à moda vestida de salto alto e bolsa de grife. Blogueiras de moda como Lala Rudge, Luciana Tranchesi, Nati Vozza e Luisa Accorsi, que, juntas, contabilizam mais de 3,5 milhões de seguidores, subiram no palanque do Instagram para falar de política e, em alguns casos, atacar opositores do capitão reformado.

Os nomes das blogueiras e diversas reproduções de posts retirados de suas contas passaram a circular em grupos privados de profissionais da moda.

Rudge, a mais famosa e ativa do quarteto, acendeu a faísca ao estimular um boicote aos restaurantes da premiada chef Helena Rizzo, alvo de críticas por postar uma foto ao lado de sua equipe na qual se lê #EleNão. Às amigas virtuais, a blogueira, destaque no último desfile da Dolce & Gabbana na semana de Milão, estimulou o movimento “Maní nunca, Manioca nunca mais”, em referência ao restaurante e ao bufê de Rizzo.

Foi o suficiente para abrir as portas de uma enxurrada de críticas e elogios, dentre os quais uma tentativa de amenizar a imagem de racista vinculada a Bolsonaro.

“Cresci sofrendo preconceito por parte das garotas negras. Eu apanhava, tinha meus cabelos destruídos”, relembrou uma seguidora loira da blogueira.

Rudge discutiu com os detratores que citaram o fato de que, no momento da troca de mensagens, a garota passeava pela semana de moda de Paris. “Falou a que se o país estiver na merda larga tudo e vai morar em Paris”, disse uma delas. “Se o país virar a Venezuela, vou mesmo!”, rebateu a blogueira.

Filha da fundadora da multimarcas Daslu, Eliana Tranchesi, a blogueira Lu Tranchesi se expôs durante as manifestações contra o capitão reformado, no domingo anterior ao primeiro turno das eleições, comentando o post de um amigo que perguntava se “alguém sabe dizer se a mulherada já volta para cozinha na segunda-feira”. "Hashtag mito, hashtag bolsomito", ele acrescentou.

Entre lágrimas de risos, Tranchesi respondeu que “ia ser mais gostoso do que trabalhar, pagar boleto, emitir nota, pagar imposto, funcionário, FGTS… Alguém me dá uma panela!”. Tranchesi costuma aparecer vestida de marcas como Mob e Ferragamo.

Após a publicação deste texto, a blogueira entrou em contato com a reportagem para dizer que foi mal interpretada em seus comentários e que a afirmação era para ser irônica e uma crítica ao machismo.

"Fiquei ofendida com o comentário, porque sou mãe, separada e foi graças ao feminismo que me tornei conhecida. Não sou antipetista, mas sim apartidária. Nunca fiz campanha", diz ela. "Nunca declarei meu voto explicitamente."

Nati Vozza, eleitora de Bolsonaro, decidiu expor seu medo de um pão valer R$ 50 em uma possível gestão petista. “Vamos ver se essas pessoas ficarão debatendo se tal pessoa é machista ou blá blá blá com um pão custando R$ 50 porque a moeda não vale mais NADA!”, exclamou, em resposta àqueles que a chamavam de ignorante e “patricinha de merda”.

Além de aparecer com looks do dia compostos por sua marca própria, a NV by Nati Vozza, ela faz propaganda para marcas como a de cosméticos Wella e a de calçados Luiza Barcelos.

Nos bastidores, marcas acenderam o sinal vermelho e declinaram a vinculação de sua imagem à das blogueiras que se posicionaram a favor do capitão reformado.

Lala Rudge, por exemplo, sumiu do material de divulgação de uma festa da joalheira Tiffany & Co., em Nova York, na qual era a única brasileira convidada. A blogueira entregou os cinco posts previstos, mas fontes do mercado editorial afirmaram que foram orientados a não destacar a garota, que teve seu nome e sua foto cortados do email geral enviado à imprensa.

Por meio de sua assessoria de imprensa, Lala Rudge afirma ser mentirosa a informação de que esteja sendo ignorada pela joalheria e que já planeja ações para 2019 com a marca. A joalheria, por sua vez, não quis dar declarações sobre o episódio.

Grife de uma nova geração de etiquetas nascidas no ambiente online, a Amaro foi além e cancelou a veiculação de uma peça publicitária com a blogueira Luisa Accorsi, que declarou apoiar o candidato em mensagens postadas no Instagram.

O vídeo iria ao ar em um dia próximo ao segundo turno das eleições, em 28 de outubro. De acordo com pessoas próximas às negociações, a marca decidiu cancelar o contrato com a blogueira para não transmitir a ideia de proselitismo político. Até a publicação deste texto, a Amaro não havia se manifestado.

Nos comentários das fotos de Accorsi, há várias mensagens de seguidores desapontados. “Lu, era tão seu fã. Fico triste em saber que você apoia um candidato que deseja a minha morte”, escreveu um seguidor homossexual. Ela não respondeu, mas 115 pessoas curtiram o comentário.

Para especialistas em marketing de moda, o ponto que preocupa as marcas nessa onda bolsonarista de blogueiras famosas é a contradição de vender um discurso de inclusão e ser representada por apoiadores de um candidato reconhecido por citações homofóbicas e misóginas.

“Esse tipo de posicionamento deve ser boicotado quando o discurso da pessoa que fala em nome de uma marca não condiz com que ela acredita. Além de ser irresponsável, é míope e excludente, o que definitivamente não cai bem para uma grife que se pretenda atual e relevante”, diz o pesquisador de tendências e marketing de moda, Cássio Prates.

Gerente para o Brasil da maior empresa de métrica de redes sociais do mundo, a Socialbakers, Alexandra Avelar pontua que, embora o posicionamento político possa ser um assunto delicado, “também pode mostrar autenticidade e gerar identificação com o público que seguem”.

Não foi o que aconteceu para três das blogueiras citadas. A pedido da Folha, a Socialbakers analisou interações e a variação de seguidores nas contas de Nati Vozza, Luisa Arcossi e Luciana Tranchesi, três das influenciadoras citadas na reportagem.

Desde o início das manifestações do público feminino contra Jair Bolsonaro e a consequente onda de comentários a favor do presidenciável nas contas das blogueiras, milhares deixaram de segui-las.

Do final de setembro até 8 de outubro, 13.487 usuários deixaram Vozza, 16.471 deram “unfollow”  em Arcossi e 5.209 em Tranchesi, única que não apresentou mudanças sensíveis de comportamento nas interações.

Todas apresentavam curvas crescentes de seguidores entre agosto até a proximidade do primeiro turno das eleições, quando se registrou o ponto inicial da queda vertiginosa no número de usuários.

Procuradas em suas respectivas contas nas redes sociais, Luisa Accorsi e Nati Vozza ainda não responderam aos pedidos de entrevista.

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