Claire Foy vive a hacker Lisbeth Salander em 'A Garota na Teia de Aranha'

Após 'The Crown', atriz dá guinada com papel em filme baseado nos livros da série 'Millennium'

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A atriz Claire Foy Divulgação

Thales de Menezes
Estocolmo

Jornalistas de vários países tomam café na lanchonete improvisada no set de filmagem de "A Garota na Teia de Aranha", novo longa baseado nos livros da série best-seller "Millennium", do autor sueco Stieg Larsson. Do lado de fora do prédio, a temperatura em Estocolmo é de um grau negativo.

Todos aguardam pela oportunidade de entrevistar a atriz Claire Foy, 34, intérprete da hacker Lisbeth Salander no filme que estreia nos cinemas brasileiros em 8 de novembro.

Técnicos da equipe passam de um lado para outro. Duas jovens, de óculos escuros e enfiadas em pesadas roupas de couro, cruzam a lanchonete, carregando nas mãos itens de maquiagem, e somem por uma porta. Instantes depois, uma delas retorna.

Para surpresa geral, é Claire Foy. Nenhum dos jornalistas, acostumados à imagem da atriz como a rainha Elizabeth 2ª da série de TV "The Crown", havia reconhecido a protagonista do filme.

A grande tatuagem falsa aplicada em suas costas sobe pelo pescoço. É impossível não ter a atenção atraída para o desenho na pele extremamente pálida da atriz. "Jamais faria uma tatuagem assim, de modo permanente. Mas é fácil para mim enxergar as tatuagens de Lisbeth como suas declarações de intenção, como representação de algo que moldou algo seu caráter."

Foy reconhece a si mesma com o visual da personagem? "Não, realmente não. O que é ótimo", responde a atriz ao repórter. Sobre a importância de encontrar a imagem certa para cada papel, a britânica tem suas teorias.

"É importante, claro, mas muito mais quando você interpreta o personagem de um livro. O risco é maior. Por mais que o escritor coloque no texto referências sobre sua aparência, cada leitor tem na cabeça uma imagem particular para Lisbeth. Fica impossível satisfazer a todos."

Uma situação completamente oposta àquela enfrentada por Foy em seu papel mais famoso, nas duas temporadas de "The Crown". "O desafio ali era outro. Tinha de representar nos mínimos detalhes uma das mulheres mais fotografadas e filmadas do último século. Eu não tinha espaço para arriscar nada."

Como Lisbeth, ela aceita riscos para viver uma personagem já levada às telas em 2009 pela atriz sueca Noomi Rapace, numa trilogia de longas também exibida como minissérie de TV em seu país, e pela americana Rooney Mara, na adaptação do primeiro livro da série "Millennium" em Hollywood, "Os Homens que Não Amavam as Mulheres", de 2011.

Desta vez, o roteiro foi tirado do quarto volume da série, escrito pelo também sueco David Lagercrantz. Ele finalizou mais dois livros depois da morte de Larsson, fulminado por um ataque cardíaco antes da publicação dos três romances que deixou prontos.

"Eu li os livros antes de ver os filmes com Noomi e Rooney, então já tinha algumas convicções sobre a personagem. E neste filme estamos usando uma história concentrada em Lisbeth e seu passado, em sua relação com a irmã. Sinto que tive mais material para trabalhar do que o oferecido às outras atrizes", diz Foy.

Nas tramas policiais de viés político criadas em "Millennium", Lisbeth se relaciona com o jornalista Mikael Blomkvist. Interpretado pelo 007 Daniel Craig no filme de 2011, na nova produção o papel está com o sueco Sverrir Gudnason, de "Borg vs. McEnroe".

A atriz define Lisbeth como uma sobrevivente. "Teve uma vida traumática, bruta, com muito azar no amor. Está acostuma a ser colocada contra a parede." Foy reluta em afirmar que a personagem é uma vingadora, apesar de seus ataques a homens que brutalizam mulheres.

"Não é uma missão, ou algo assim. Ela foi abusada, agredida. Então passa a viver por suas próprias regras, e acho sua independência o mais difícil nessa caracterização."

Ela ressalta a importância da ausência de feminilidade na personagem. "Não é no sentido de substituir por masculinidade. Ela simplesmente não segue os códigos das relações. Lisbeth nunca pensa em ficar atraente para quem quer que seja."

Para ela, o filme é sobre uma mulher que não se identifica com grupos. "Ela não segue qualquer modelo de comportamento. Seja em opção de gênero, seja em filiações políticas. Lisbeth é uma anarquista. E individualista, no sentido mais puro dessa palavra. Sua sexualidade é definida por suas necessidades íntimas, não por aquilo que as pessoas possam esperar dela. Definitivamente, não é feminista."

Foy diz nunca ter imaginado atuar em filmes de ação. "É algo que faz sentido, em termos de mercado. Mulheres vão ao cinema, precisam se sentir representadas em todos os tipos de personagem. Mas Lisbeth não é exatamente a heroína destemida." Mesmo assim, a atriz estava gravando cenas bem movimentadas em Estocolmo, com Lisbeth em fuga alucinada de seus perseguidores.

"Bem, eu não sou Tom Cruise, assumo riscos controlados. Num filme com tanta exigência física, você precisa confiar no diretor. Eu me entreguei nas mãos de Fede Alvarez", diz, referindo-se ao uruguaio que dirigiu o grande hit de suspense de 2016, "O Homem nas Trevas".

"Tive treinamentos de luta corporal, de pilotagem de motos, mas não creio que Lisbeth seja uma Lara Croft. Ela tem resistência física, mas passa muito tempo sentada na frente do computador, não? Acho que, mais do que ser forte ou ágil, ela é esperta numa briga."

A atriz pode ser vista agora numa outra megaprodução em exibição no Brasil. Em "O Primeiro Homem", ela faz o papel de Janet, mulher do primeiro astronauta a pisar na Lua, Neil Armstrong. Um trabalho de prestígio, mas sem grandes desafios dramáticos.

A série "The Crown" terá novas temporadas, sem sua participação. Depois de Foy interpretar uma jovem rainha Elizabeth, atuação que deu a ela um Globo de Ouro e um Emmy, a versão madura da personagem virá com a atriz Olivia Colman. A antecessora aprova.

"Não fizemos uma cerimônia oficial no palácio para a passagem da coroa", brinca. "Mas achei uma ótima escolha. Ela é uma atriz extraordinária e uma pessoa incrível."

Ela não vê a escolha do papel de Lisbeth como uma tentativa deliberada de se afastar da imagem da rainha. "Apenas procuro um papel que me comova de alguma forma. Encontrar personagens interessantes não é simples, porque o cinema ainda é um mundo orientado para os homens."

A Garota na Teia de Aranha

(The Girl in the Spider's Web). Reino Unido, Estados Unidos, Suécia, Canadá, Alemanha, 2018. Direção: Fede Alvarez. Elenco: Claire Foy, Sylvia Hoeks, Lakeith Stanfield. Estreia em 8/11


Claire Foy, 34

Nascida em Stockport, no Reino Unido, a atriz se formou na Oxford School of Drama. Antes de ganhar fama no papel de rainha Elizabeth 2ª, em 'The Crown', era conhecida pela atuação em séries de TV britânicas. Sua estreia no cinema foi com 'Caça às Bruxas', filme de 2001 em que contracenou com Nicolas Cage

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