Filme sobre guerrilheiras socialistas da Nicarágua vence Mostra de SP

Documentário ganhou o principal prêmio do júri do festival e também foi escolhido pelo público

Cena do filme 'Sandinistas', exemplo de filme politizado da Mostra de Cinema de São Paulo
Cena do filme 'Sandinistas', exemplo de filme politizado da Mostra de Cinema de São Paulo - Divulgação
Guilherme Genestreti
São Paulo

O documentário “¡Las Sandinistas!”, da americana Jenny Murray, foi escolhido como o vencedor da Mostra de Cinema de São Paulo, que terminou nesta quarta (31).

A obra retrata a luta de ex-guerrilheiras pela memória de sua participação na revolução socialista que derrotou a ditadura na Nicarágua, no fim dos anos 1970.

O filme ganhou o Troféu Bandeira Paulista, principal prêmio do festival, por decisão do júri, e também foi escolhido pelo público como o melhor documentário internacional da programação.

Os cinco jurados, que incluem a diretora portuguesa Teresa Villaverde e o diretor baiano Sérgio Machado, também conferiram uma menção honrosa ao drama brasileiro “Sócrates”, do diretor Alex Moratto, sobre um órfão de 15 anos que enfrenta racismo, homofobia e as agruras da pobreza.

Ambas as decisões do júri mostraram certa politização dos jurados, que se mostraram alinhados a pautas identitárias e abertos à ressonância social, à esquerda, dos filmes escolhidos. 

Essa mesma politização se repetiu nos votos do público e nos discursos dos premiados, que mencionaram o momento político pós-eleição de Bolsonaro.

O Prêmio Petrobras, que confere gratificação em dinheiro a uma ficção nacional e a um documentário nacional a partir dos votos do público, foi para o colo de “Meio Irmão” e “Torre das Donzelas”, respectivamente.

O primeiro, um drama familiar dirigido e roteirizado por Eliane Coster, conta a história de dois irmãos distanciados que precisam se unir para achar a mãe, desaparecida. O garoto ainda precisa driblar as ameaças de que sofre depois de ter filmado uma agressão motivada por homofobia.

Já “Torre das Donzelas” recupera como foi o período em que o presídio Tiradentes, em São Paulo, recebeu detentas vindas da guerrilha durante a ditadura militar. Entre as várias mulheres que passaram por ali estão a ex-presidente Dilma Rousseff, que é entrevistada no documentário de Susanna Lira.

"O que o nosso país não tem é um direito à memória. Nesse momento, o filme é um testemunho de como a tortura destrói as pessoas", disse a ex-guerrilheira Rita Sipahi, uma das entrevistadas no filme.
Lendo um texto enviado pela diretora, Sipahi falou em "resistência em tempos sombrios" e foi apoiada por gritos de "Ele Não" do público.

Os espectadores também elegeram as melhores produções internacionais por votação. Além de “¡Las Sandinistas!”, que ganhou na categoria documental, o escolhido em ficção foi “Cafarnaum”.

O drama da libanesa Nadine Labaki, vencedor do terceiro principal prêmio no último Festival de Cannes, conta a história de um menino de 12 anos, semimiserável e vítima de maus-tratos, que resolve processar seus pais por negligência.

A Abraccine, associação que reúne críticos de cinema do país, votou em “Meio Irmão” como o melhor longa-metragem da edição.

A crítica também elegeu "Nuestro Tiempo", de Carlos Reygadas, como o melhor longa estrangeiro. Entre os nacionais, o eleito foi "Todas as Canções de Amor", de Joana Mariani. 

"A Mostra também concedeu o prêmio honorário Leon Cakoff ao cineasta iraniano Jafar Panahi, de "3 Faces", que é impedido de deixar seu país por imposição do governo. Ele é acusado de fazer propaganda contra o regime em seus filmes. 

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