Descrição de chapéu Artes Cênicas

LaMínima, grupo fundado por Domingos Montagner, debate inutilidade da guerras

Aos 21 anos, companhia estreia 'Ordinários', com texto de Newton Moreno, e lança livro que repassa a sua trajetória

Maria Luísa Barsanelli
São Paulo

Meio ao acaso, ou talvez por vaticínio, a companhia LaMínima criou uma espécie de crônica dos nossos tempos. “Ordinários”, novo espetáculo da trupe circense, transita pela palhaçaria para questionar de quê, afinal, nos servem os conflitos.

Foi em meados do ano passado que o grupo iniciou a pesquisa, mas a montagem  acabou ganhando reflexos do presente, comenta o ator Fernando Sampaio, referindo-se ao clima tumultuoso das últimas eleições e ao fato de o presidente eleito Jair Bolsonaro ter uma ligação com o Exército.”

Isso porque a pesquisa do grupo partiu de um contato com o Palhaços Sem Fronteiras Brasil, organização que leva trabalhos a zonas de conflito e campos de refugiados. 

“Começamos a imaginar o que seriam palhaços em meio à guerra. Como uma pessoa tão inapta ao combate se viraria ali”, afirma Sampaio. “Não entramos no mérito de partidos políticos, mas, de maneira sutil, colocamos o nosso posicionamento no espetáculo.”

O resultado, que conta com  texto do dramaturgo Newton Moreno, autor do premiado “Agreste”, coloca em cena três palhaços que esperam angustiados por algum comando. 

A ordem finalmente chega, mas no avançar da missão percebem que escondem segredos uns dos outros e que, na realidade, são um tanto inadequados para a batalha.

“A figura do palhaço numa área de combate vem com um trocadilho. Porque a gente se sente assim [feitos de bobos] quando é colocado para disputar algo com o outro”, diz Alvaro Assad, convidado a dirigir a peça. Para ele, é na comicidade da encenação que se encontra espaço para refletir sobre a guerra e sua inutilidade.

Ainda que se apoie em números e alegorias circenses, a LaMínima extrai sua força de um jogo bastante teatral e de precisão nas atuações. 

É uma marca que o grupo carrega desde a fundação, em 1997, por Sampaio e pelo colega Domingos Montagner —morto há dois anos, enquanto nadava no rio São Francisco, numa pausa das gravações da novela “Velho Chico” (Globo).

“O circo foi muito transformador para a gente, não só como palhaços, mas como como acrobatas. Não que fôssemos grande acrobatas, mas na palhaçaria a comunicação é mais imediata e duradoura”, afirma Sampaio. “O Duma [Montagner], mesmo quando ele foi para a Globo, não teve dúvidas que a comunicação dele sempre foi como palhaço.”

A longevidade do grupo, um dos mais reconhecidos nomes do circo-teatro nacional, é celebrado também no lançamento de um livro, que repassa a história do coletivo e sua diversidade de produções. 

É um grupo, diz Assad, com um “trabalho muito contundente não só artisticamente, mas também na estratégica. Eles pensam em peças para diferentes idades e espaços, têm amplitude de linguagem.”

A programação de aniversário segue com encontros, oficinas e encenação de uma peça de repertório, “Reprise”.

 

Especial LaMínima Circo e Teatro

Camarim em Cena, conversa com Fernando Sampaio (mediação do crítico Valmir Santos)
Ter. (13), às 16h. Livre

Espetáculo ‘Ordinários’
Qua., (14) sex. (16), sáb. (17) e seg. (19), às 20h. Dom. (18) e feriados (15 e 20), às 19h. 14 anos

Lançamento do livro ‘LaMínima 20 Anos em Cena’
Qui., às 15h30. Valor do livro: R$ 30

Oficina Acrobática Pais e Filhos
Sáb. (17) e dom. (18), às 14h. Livre

Espetáculo ‘Reprise’
Sáb. (17) e dom. (18), às 16h. Livre

ONDE: Itaú Cultural, av. Paulista, 149. Programação gratuita

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