Descrição de chapéu

'Legalize Já' acerta ao destacar amizade que fundou Planet Hemp

Filme une drama e humor para narrar aproximação de Marcelo D2 e Skunk no Rio, nos anos 1990

Thales de Menezes

Legalize Já - Amizade Nunca Morre

  • Quando Estreia nesta quinta (18)
  • Classificação 12 anos
  • Elenco Renato Góes, Ícaro Silva, Ernesto Alterio
  • Produção Brasil, 2018
  • Direção Johnny Araújo e Gustavo Bonafé

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As cinebiografias de ídolos da música estão preenchendo um espaço cada vez maior nas salas brasileiras. Se depender de produções como "Legalize Já - Amizade Nunca Morre", o gênero ainda mostra fôlego para levar ao público grandes filmes.

Dirigido por Johnny Araújo e Gustavo Bonafé, o filme que busca reconstituir a formação da banda carioca de hip-hop Planet Hemp é uma coleção de acertos.

O elenco merece todos os elogios. Renato Góes interpreta Marcelo D2. Ícaro Silva tem o papel de Skunk. Os dois, reunidos por acaso nas ruas do Rio no início dos anos 1990, vão incentivar um ao outro até a formação da banda.

Os dois atores conduzem o enredo sem a preocupação da micagem, da representação fiel de trejeitos e modo de falar dos personagens reais. Focam o mais importante, que é a construção do relacionamento da dupla.

Gente sofrida da classe baixa carioca, um vai puxando o outro quando os percalços do início da carreira se transformam em momentos de depressão. E esses percalços não são poucos.

Marcelo, ainda sem o apelido D2, vende na rua camisetas com estampas de rock. Além de fugir do rapa, lida com a pressão do pai que pretende mandá-lo para fora de casa e com a gravidez da namorada, tentando reunir dinheiro para um aborto.

Skunk grava e vende fitas personalizadas para seus clientes. Tem problemas para pagar o aluguel e, soropositivo, reluta em tomar o coquetel de remédios para Aids.

De modo totalmente casual, um caderno de anotações de Marcelo vai parar nas mãos de Skunk, que vê ali versos potencialmente explosivos para se transformarem em letras de rap. Ele entra em contato com o outro, mas levará muito tempo para convencer o reticente Marcelo a virar seu parceiro.

O filme vai acompanhar então a formação do grupo Planet Hemp, que nasce apadrinhado pelo argentino Brennand, dono de boteco que funciona como mecenas da dupla, cedendo os fundos do bar para um estúdio improvisado.

Se Renato Góes e Ícaro Silva têm interpretações poderosas, o ator argentino Ernesto Alterio contribui muito com um personagem cativante. Autodefinido como "o último dos beatniks", o boêmio Brennand comove a plateia ao proteger o fragilizado Skunk. E acaba protagonizando algumas das cenas mais engraçadas do filme.

Sim, entre a dureza do dia a dia da dupla, "Legalize Já" tem muito humor. A cena em que Marcelo e Skunk sobem pela primeira vez num palco é de arrancar gargalhadas.

Com uma fotografia que suaviza as cores, deixando a vida nas ruas e morros desenhada em tom esmaecido, o filme captura enquadramentos inusitados da cena carioca. Nunca pontos miseráveis da cidade do Rio apareceram tão bonitos na tela.

E, claro, "Legalize Já" tem a força das canções do Planet Hemp. Manifestos de excluídos feitos com poesia contundente, ao mesmo tempo rude e bela.

A opção de escolher mostrar apenas a fase de criação da banda, encerrando a narrativa antes do sucesso, é uma feliz opção dos diretores. O foco desse filme é a amizade num mundo de adversidades. É tratada como uma flor que nasce num deserto.

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