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Livraria Cultura entra com pedido de recuperação judicial

Empresa vem atrasando pagamentos a fornecedores há cerca de dois anos

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São Paulo

Depois de dois anos com atrasos sucessivos de pagamento a editores, a Livraria Cultura entrou nesta quarta-feira (24) com um pedido de recuperação judicial. A decisão foi comunicada em um e-mail enviado aos fornecedores da rede.

Salão na Livraria Cultura do Shopping Iguatem - Alberto Rocha/Folhapress

“Diante da premente necessidade de reestruturar nosso passivo, não nos restou outra opção que não iniciar um processo de recuperação judicial da Livraria Cultura, cujo pedido está sendo apresentado hoje aos órgãos competentes”, diz o comunicado por e-mail.

Na mensagem, a empresa diz que espera normalizar compromissos com fornecedores —ou seja, pagar as dívidas— em “um curto espaço de tempo”.

O comunicado destaca ainda o processo de enxugamento que a Cultura tem promovido nos últimos tempos —a medida mais recente foi o fechamento da loja no centro do Rio de Janeiro, a última na cidade.

Desde que assumiu a operação brasileira da Fnac, em 2017, a empresa já fechou todas as lojas da rede francesa no país —semana passada, ex-funcionários protestavam por falta de pagamento.

As dívidas da Cultura, somadas às da Saraiva, têm gerado uma crise intensa no mercado de livros —ao longo deste ano, diversas editoras promoveram demissões como resultado. Nas duas redes, os débitos vêm sendo negociados e renegociados diversas vezes ao longo dos últimos dois anos.

A decisão de rede redobra a preocupação dos editores com a Saraiva, dona de quase um terço do mercado, porque a Cultura sempre teve a reputação de ter uma gestão mais eficiente. As duas redes são as líderes de vendas no setor.

"Infelizmente, após quatro anos de recessão, o cenário geral no país não apresenta sinais claros de recuperação", diz a nota da livraria.

Nesta terça (23), Sérgio Herz, um dos sócios da livraria, teve uma reunião com diversos editores para mostrar a situação da Cultura —ali, ele já avisou que a empresa não tinha capacidade de cumprir os pagamentos e que entraria com o pedido de recuperação judicial. O motivo é o fato de, apesar do redimensionamento da empresa, as vendas estavam abaixo do esperado.

Ainda de acordo com o relato de editores presentes à Folha, Herz apontou a necessidade de aumentar os estoques da livraria. Como o setor trabalho com consignação, editoras vêm diminuindo o fornecimento à rede, como forma de diminuir o risco em caso de um calote.

Procurada, a rede enviou à Folha o mesmo comunicado que mandou para seus fornecedores. Nele, a empresa relembra os cortes de pessoal, o fechamento de lojas e a revisão de seu planejamento.

A ideia da Cultura, ainda de acordo com a nota, é atuar de forma mais agressiva nas vendas digitais e manter poucas lojas físicas pelo país.

Antes da crise econômica que atingiu o setor livreiro, a rede vinha investindo em uma política de expansão. Em 2009, um fundo de investimentos chegou a comprar participação no negócio, mas deixou a Cultura em 2016. Em 2017, já em crise, a Cultura comprou a Estante Virtual, principal site especializado na venda de livros usados.

Marcos Pereira, sócio da Sextante e presidente do Snel (Sindicato Nacional dos Editores de Livros), diz que a medida evidencia a fragilidade do mercado de livros do país no momento   

"A recuperação judicial define o fim de uma etapa e o início de um novo capítulo. A Cultura toma essa decisão para que posso ter fôlego de recuperação", afirma. "A rede continua um player muito relevante no mercado. É importante termos nossos lançamentos expostos lá."​

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