Monarco se desgarra da Portela para compor canções de amor

Único remanescente da Velha Guarda original, sambista lança disco com participação de Alcione

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Rio de Janeiro

Com a morte de Otto Enrique Trepte, o Casquinha, na terça (2), há só um remanescente da formação original da Velha Guarda da Portela, montada por Paulinho da Viola em 1970. É Hildemar Diniz, o Monarco, 85.

Ele ainda é o presidente de honra da escola de samba. É tão forte o vínculo entre eles que a gravadora Biscoito Fino, ao convidá-lo para realizar um CD, pediu que o repertório ficasse desatrelado da Portela; que fosse um disco de Monarco, o cantor e compositor.

Portanto, em “Monarco de Todos os Tempos” sai o autor de exaltações à azul-e-branco e entra o criador de canções de amor, muitas em tom de desilusão. “O amor é a luz do mundo. Nunca vai se deixar de falar do amor”, acredita. 

“O [jornalista] Juarez Barroso dizia: ‘A mulher vai embora, o Monarco faz samba; a mulher volta, ele faz; vem outra, ele faz também’.”

Autor (com Ratinho) de “Coração em Desalinho” e “Vai Vadiar”, sucessos de Zeca Pagodinho, ele explica que escreve muito em primeira pessoa a partir de histórias alheias. 

Ex-feirante, faxineiro e guardador de carros, compensa a falta de estudos com afiada sensibilidade. Presta atenção em situações e pessoas que outros não enxergam.

Daí nasceu “Seu Bernardo Sapateiro”, samba com Ratinho já gravado por Beth Carvalho e que Monarco e Zeca interpretam em duo agora. Bernardo era um senhor que frequentava rodas de samba tocando seu prato-e-faca.

“Essas músicas brotam dentro de mim. Vou fazer música falando do Roberto Carlos? Ele é o rei, merece tudo. Mas prefiro uma coisa que dê alegria ao meu coração.”

Assim ele fez “Uma Canção pra São Luís”, dedicada a um amigo maranhense (e com participação de Alcione no CD). E fez “Samba pra Maricá”, sobre a pequena cidade fluminense —incentivado pela neta, que gostou do que o avô cantava enquanto a empurrava no balanço.

Ou “Aurora da Minha Vida”, recordando sua infância após ver um menino brincando na favela do Jacarezinho (zona norte do Rio). Ou “Beija-flor”, sobre o pássaro.

Ou ainda, nos anos 1970, ao lado do também portelense Manacéa, “Obrigado pelas Flores”, dedicada a Dona Ivone Lara, que lhe dera um buquê após um período em que ele ficou hospitalizado.

Seis faixas do CD têm o filho Mauro Diniz como parceiro —numa delas também está outro filho, Marcos Diniz. Produtor do disco, Mauro é guardião e incentivador da obra de Monarco. 
“Fazer disco com papai não é trabalho, é lazer”, diz.

Mauro também dirigiu “Passado de Glória - Monarco 80 Anos”, melhor álbum de samba de 2015, no Prêmio da Música Brasileira. Monarco já levara o troféu em 2011, por ter criado com Mauro a melhor canção do ano: “Dolores e Suas Desilusões”, lançada por Zeca.

Sobre a Velha Guarda, não sabe o que acontecerá. “De repente, vai até acabar.”
 


Monarco de Todos os Tempos

Artista: Monarco. Gravadora: Biscoito Fino. R$ 31,90 (CD)

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