Descrição de chapéu

Nicole Puzzi vive bem com passado de estrela do cinema erótico

Mostra de filmes mostra evolução segura na carreira da atriz

A atriz Nicole Puzzi, musa da pornochanchada, posa em bar de São Paulo

A atriz Nicole Puzzi, musa da pornochanchada, posa em bar de São Paulo Keiny Andrade/Folhapress

Inácio Araujo

“Possuída pelo Prazer” não é um bom nome para mostra. Tem o mesmo defeito da maior parte dos títulos do cinema popular produzido no Brasil nos anos 1970/80: o caráter tão cafona quanto hiperbólico.

Mas, aceitemos: isso é o que menos importa. A mostra nos traz um apanhado da carreira da atriz Nicole Puzzi, dos primórdios até os anos de ouro, na década de 1980. Ei-la ainda incipiente em um de seus primeiros papéis, como Dora, a filha da empregada de um financista extremamente perverso em “Possuídas pelo Pecado”, em que é dirigida por um também incipiente Jean Garret.

Isso não impede que Garret mostre cenas que já prefaciam o bom diretor em que viria a se tornar. Quanto a Puzzi, já se podem notar características que marcariam boa parte de suas presenças futuras: o jeito tenso, que dá a impressão de não querer estar por lá (com efeito, sua personagem é bem deslocada em relação ao conjunto) e a grande beleza física.

Ali Puzzise sobressaía, até porque os papeis de Helena Ramos e Zilda Mayo são lamentáveis. Mas é inegável que sua beleza também serviu como uma baliza negativa em sua carreira. Era como se não fosse preciso, na maior parte das vezes, senão explorá-la.

A tensão corporal e a beleza são as marcas de “Ariella”, que pode ser chamado de “filme de Puzzi”. O filme foi a primeira experiência de John Herbert como diretor e sua adaptação de um livro de Cassandra Rios fez enorme sucesso naquele momento.

Embora fosse uma das razões (talvez a razão principal) do sucesso desse filme que recebeu elogios da crítica a seu tempo, Puzzi não viu se transformar a imagem de atriz apenas bonita que lhe era atribuída. Sua passagem pelo “filme sério” “O Bom Burguês”, de Oswaldo Caldeira, também não ajudou muito: além de supérfluo na trama, sua personagem entra ali para ser bonita --e, pior, nunca sua fotogenia foi tão mal explorada.

Sua redenção viria pelas mãos de Walter Hugo Khouri. Não apenas um cineasta de primeira linha, Khouri foi também um excelente diretor de mulheres. E nos seus últimos anos, com raras exceções, costumava entupir seus filmes com elas, casos de “Eu” e, sobretudo, “Eros, o Deus do Amor”.

A habilidade de Khouri talvez tenha sido o que mais contribuiu para livrar a atriz da fama de apenas bonita, embora, paradoxalmente, a beleza fosse o que mais interessasse ali.

Talvez dois filmes representem melhor a imagem mais liberada de Nicole Puzzi, e são justamente os dois que mais colocam a beleza em surdina e solicitam a atriz: num deles, “Anjos do Arrabalde” (infelizmente fora da mostra), ela faz um pequeno porém decisivo papel. No outro, “As Sete Vampiras”, se dá bem com o tom de terror chanchadesco imposto pelo diretor Ivan Cardoso.

Do jeito “eu não tenho nada a ver com isso” de seus primeiros filmes à maneira mais leve como evoluiu pessoalmente (tornou-se ecologista militante) e a carreira (do programa Pornolândia, de nome idiota, no Canal Brasil, à participação no grupo teatral Os Satyros) existe uma evolução segura que vale observar ao longo da mostra dedicada a ela.

Nesse momento em que várias das antigas estrelas do cinema popular erótico daquele momento foram esquecidas, sofrendo uma espécie de excomunhão por terem aparecido nesse gênero de filmes num país tão conservador como o nosso, Puzzi parece viver o melhor de sua carreira: bem com seu passado, bem com seu presente e aberta ao futuro.

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