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Nova novela 'O Sétimo Guardião' terá realismo mágico e gato que vira homem

No ar em novembro, trama das nove de Aguinaldo Silva se passará em cidade sem sinal de celular

Bruno Gagliasso e Marina Ruy Barbosa em cena da nova novela das nove, 'O Sétimo Guardião'

Bruno Gagliasso e Marina Ruy Barbosa em cena da nova novela das nove, 'O Sétimo Guardião' Globo/ Divulgação

Guilherme Genestreti
Rio de Janeiro

​A cidade de Serro Azul parece perdida entre Minas e o Nordeste, com suas ruas de pedra e sobrados de fachada colonial. Mas está também a um pulo de São Paulo ou então não se explicaria como um gatinho preto pudesse sair de lá e parar bem no meio da avenida Paulista. 

Quem resolve o nó na cabeça é a atriz Marina Ruy Barbosa: “É que a gente não tem nenhum compromisso com coerência”, diz, adiantando o tom surreal da próxima novela das nove, “O Sétimo Guardião”

Geografia à parte, Serro Azul será um microcosmo rural e atemporal do Brasil nos próximos meses. Por ali circularão beatas fervorosas, cafetinas bonachonas e magnatas cheios de ganância.

O folhetim, que substituirá “Segundo Sol” a partir de 12 de novembro, marcará o retorno do dramaturgo Aguinaldo Silva ao território do realismo mágico, que notabilizou seus trabalhos em “Roque Santeiro”, “Tieta”, “Pedra sobre Pedra”, “Fera Ferida”, “A Indomada” e “Porto dos Milagres”.

De fato, ao se caminhar pelas ruas da cidade cenográfica, a maior que se tem notícia na história da Globo, a mente viaja a Resplendor, Tubiacanga e Greenville, lugarejos que o autor cravou na trajetória da teledramaturgia. 

Há o Hotel da Ondina, que serve de bordel para conchavos dos homens da cidade, há casarões com portão de ferro, uma igreja da matriz com pia batismal e tudo, cemitério, delegacia. Duas figurantes descansando à sombra na varanda de um certo Bar do Tobias quase fazem enganar que se está no interior, e não no Projac, na zona oeste do Rio.

A sinopse da trama anuncia que naquele lugar parado no tempo, sem sinal de celular ou de internet, há uma fonte com poderes curativos. Sete guardiães (segundo a grafia adotada pelo autor) são responsáveis por protegê-la. Entre eles ronda o gato Léon, que tem poderes místicos e nutre uma forte ligação com Luz, aspirante a professora vivida por Marina Ruy Barbosa.

Certo dia o bichano foge, sinal de que o equilíbrio foi sacudido e que um dos guardiães terá de ser substituído. O animal chega à capital paulista e topa com Gabriel (Bruno Gagliasso), que sem grandes explicações abandona a noiva ricaça e parte para Serro Azul. Logo, ele encontra Luz e os dois logo se enamoram.

A sinopse é motivo de disputa nos bastidores. Um grupo de alunos de Aguinaldo afirma que o argumento foi criado em conjunto com os participantes de uma das oficinas que o dramaturgo ministrou.

Eles reivindicam que sejam creditados como coautores e recebam os valores correspondentes. A Globo informa, via seu departamento de comunicação, que “não faz parte da ação judicial mencionada e não comenta casos pendentes de avaliação do Judiciário”.

Ao longo da trama, o personagem de Gagliasso terá de renunciar ao amor por Luz se aceitar assumir o posto de sétimo guardião —mesma abnegação a que está submetido o Jon Snow de “Game of Thrones”, série da HBO de que Aguinaldo é fã declarado.

Para o ator, Gabriel tem diante de si um “chamado espiritual”. “Ele tem uma missão. É a única explicação para ele fazer o que faz”, diz Gagliasso.

O gatinho Léon se soma a uma longa lista de animais que passaram pelos folhetins. A produção da novela teve de conseguir nos Estados Unidos quatro filhotes de uma mesma ninhada da raça bombaim, de pelagem curta e negra, para fazer as vezes do bicho. 

Segundo a Associação Internacional de Gatos, esse tipo de felino foi criado por uma ex-Miss estado do Kentucky que queria ser dona de “minipanteras”. O resultado é um animal esguio e dono de enormes olhos amarelados.

No site oficial da raça, o bombaim é comparado a Bagheera, fera que protege Mogli, o menino lobo. “O único perigo é ele roubar seu coração”, derrete-se o texto que dá um panorama sobre o bicho.

Os atores têm interagido com o gato de verdade e com uma versão computadorizada. No desenrolar da trama, Léon vai se metamorfosear em homem e ganhar o corpo de Eduardo Moscovis. A novela das nove será carregada de efeitos especiais, a exemplo do que foi “Deus Salve o Rei”.

No panteão dos tipos criados por Aguinaldo (e/ou por seus alunos), o homem-gato se juntará a Sérgio Cabeleira (Osmar Prado), o sujeito que era atraído pela lua cheia em Resplendor, e ainda ao cadeirudo, o maníaco de traseiro sobressalente que aterrorizava as mulheres de Greenville.

A seguir a tradição, é de se esperar que “O Sétimo Guardião” reflita o país pós-eleições. “Fera Ferida”, forjada depois do impeachment de Collor, punha a corrupção em cena. “A Indomada”, que foi ao ar durante a abertura econômica dos anos FHC, punha os personagens para falar um misto de inglês e português com um sotaque pernambucano.

“Serra Azul é um lugar que não tem celular. Não é maravilhoso pensar nisso nos dias de hoje?”, indaga Gagliasso, dando pistas sobre as eventuais alegorias da próxima obra. Marina completa: “Ali não se tem a preocupação dos grupos de WhatsApp, do Instagram”.

A história centrará fogo mesmo na ligação entre Gabriel e Luz, primeiros protagonistas de novela das nove interpretados pelos dois atores.

Marina diz que não parou para pensar no assunto. “É que novela é obra aberta, tudo muda. Tem coadjuvante que ganha espaço”, afirma a atriz de 23 anos, que rejeita o rótulo de mocinha. “Ninguém ali vai ser vilão ou bonzinho puro”, diz Gagliasso, 36. 

A dupla vai aparecer ainda no filme romântico “Todas as Canções de Amor”, de Joana Mariani. O longa, que estreia na Mostra de Cinema de São Paulo, nesta semana, costura a história de dois casais por meio das canções de MPB numa velha fita cassete.

Os dois fazem um par no início da convivência, enquanto Julio Andrade e Luiza Mariani formam outro, já em crise, 20 anos antes. Gil, Gal, Cazuza e Blitz embalam a trilha.

“Fala de amor, de separação, recomeço. É um filme que toca de forma diferente dependendo do momento que você estiver vivendo”, diz Marina. A atriz ainda protagoniza “Sequestro Relâmpago”, drama social de tom mais cru dirigido por Tata Amaral, também na programação da Mostra. 

Gagliasso esboça comparação entre a novela e o filme que faz com Marina. “Falam de amor, mas o que os conecta num caso são as músicas, no outro é o gato.” O negro gato. 

O jornalista viajou a convite da Globo

 
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