Descrição de chapéu

Na ressaca da eleição, 'O Doutrinador' tem cenas de ação bem realizadas

Filme nacional segue caminho estético de produções hollywoodianas de gênero policial

Thales de Menezes
São Paulo

"O Doutrinador” apresenta uma qualidade inegável. Nunca uma produção brasileira mostrou cenas de ação tão bem realizadas. É inevitável dizer: parece filme americano.

A afirmação pode causar calafrios em quem defende a identidade nacional na tela. Mas, uma vez que o longa segue o caminho estético dos policiais de Hollywood, tem o mérito de encarar qualquer comparação sem fazer feio.

A história foi vista inúmeras vezes. Sylvester Stallone, Arnold Schwarzenegger, Bruce Willis e Liam Neeson formam um time de durões que já foi atrás da bandidagem para vingar a morte da mulher ou de um filho.

O Doutrinador

  • Quando 1º/11
  • Classificação 16 anos
  • Elenco Kiko Pissolato, Tainá Medina, Eduardo Moscovis
  • Direção Gustavo Bonafé

“O Doutrinador” tem um trunfo particular para amenizar críticas que o classificariam de produto requentado. A trama insere os personagens numa teia de corrupção política, repleta de tipos asquerosos e gananciosos. E, quando o tema é corrupção, o Brasil é um protagonista mundial.

A ressaca de um processo eleitoral no qual o combate à corrupção foi alçado a ponto nevrálgico pode levar a uma discussão estéril. “O Doutrinador” deve permanecer enraizado na proposta do entretenimento.

Criado para consumo ligeiro e pouca reflexão, o filme não resiste a um exame político mais rigoroso.

Com roteiro enxuto, em que o herói assume rapidamente a justiça pelas próprias mãos depois que sua filha pequena morre alvejada por uma bala perdida, “O Doutrinador” não perde tempo. São sumárias as cenas do cotidiano do agente policial Miguel sem a máscara contra gases que veste para sair à noite caçando corruptos.

Mesmo a introdução de um personagem feminino, a jovem hacker Nina, não chega a ocupar uma fatia maior na trama. O que importa é cada missão vingadora do mascarado. Suas incursões pretendem ser movimentadas e muito violentas, para um público ávido por ação encharcada de testosterona.

Tiros, explosões e lutas corporais têm coreografias precisas, auxiliadas por bons efeitos visuais e de maquiagem. Kiko Pissolato parece talhado para o papel. Tem o físico certo e a atitude fria de um herói de HQ. Suas falas curtas e diretas podem até ser imaginadas dentro dos balões característicos dos gibis.

Embora a opção em emular a narrativa de quadrinhos tenha bons resultados, as cenas em que o Doutrinador aparece no alto dos prédios, meditativo, são constrangedoras. Simulam as figuras de Batman, Demolidor ou outro herói americano nessa pose clichê que não faz o menor sentido na trama.

Mas “O Doutrinador” coleciona muito mais acertos do que erros. Pelo menos para quem considera ação violenta uma opção para duas horas de distração no cinema.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.