Descrição de chapéu Artes Cênicas

Peça discute opressão e machismo de personagens de 'Um Bonde Chamado Desejo'

bra de Tennessee Williams tem papéis invertidos em versão de Alexandre Dal Farra, encenada pela Cia. da Memória

Ondina Clais (Stella) Jorge Emil (Stanley) em ensaio da peça Lenise Pinheiro/Folhapress

Maria Luísa Barsanelli
São Paulo

É como bagunçar uma fileira de formigas, passando o dedo diante de uma delas para desorientar todo o carreiro, compara o dramaturgo Alexandre Dal Farra.

Em sua peça "Réquiem para um Desejo", que ganha encenação da Companhia da Memória, o autor inverte a perspectiva dos personagens de "Um Bonde Chamado Desejo", de Tennessee Williams. Mais do que isso: mudando seus papéis na história, deixa-os um tanto desnorteados.

"Quis bagunçar os vetores do desejo", comenta Dal Farra. "Assim, essas pessoas acabam meio atordoadas, atirando para todos os lados."

Essas figuras são Blanche Dubois (Gilda Nomacce), remanescente da cultura sulista dos Estados Unidos que parte em visita à irmã Stella (Ondina Clais) e ao marido desta, Stanley Kowalski (Jorge Emil), cujo jeito bruto vai de encontro à delicadeza de Blanche.

Aqui, porém, Stella deixa de lado a submissão do original de Williams e se torna dominadora, torturando a irmã. Stanley não é mais o macho autoritário, e sim um fracassado que não sabe o que fazer sem seu poder patriarcal.

Já Mitch (Marcos Suchara), pretendente de Blanche, faz o caminho inverso. Sai a timidez e entra uma personalidade dominadora. Blanche, figura carente, fica então perdida, tentando recriar seus vínculos.

Nessa inversão de papéis, acaba-se discutindo estruturas sociais, como a supremacia de classes e de gêneros. "E também como as leis do desejo se confrontam com o domínio, com o lugar de sujeição do outro", afirma Ruy Cortez, que assina a direção, na sua terceira produção da série Pentalogia  do Feminino.

Para tanto, a montagem cria um novo plano narrativo, buscando paralelos com o Brasil e nossa história colonial. Costurando a história, entram cenas de duas atrizes-cantoras negras, Denise Assunção e Roberta Estrela D'Alva —esta em participação em vídeo.

Falam textos próprios de "spoken word" (poesia falada, gênero explorado por Estrela D'Alva) e músicas de piano blues, na voz de Assunção, que ressoam cantos negros, de opressão e dominação. Uma forma, explica o diretor, de dar voz a figuras anônimas.

Réquiem para o Desejo

  • Quando Sex. e sáb., às 21h, dom. e feriados, às 18h. Até 4/11
  • Onde Sesc Ipiranga, r. Bom Pastor, 822
  • Preço R$ 8 a R$ 30
  • Classificação 16 anos
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