Descrição de chapéu

Previsível e didático, 'Amanhã Chegou' fala sobre o consumo no século 21

Repetição de ideias deixa longa, que se assemelha a um programa de TV, cansativo

Cena do documentário 'Amanhã Chegou'
Cena do documentário 'Amanhã Chegou' - Divulgação
Andrea Ormond

Amanhã Chegou

  • Quando Estreia nesta quinta (11)
  • Classificação 10 anos
  • Produção Brasil, 2017
  • Direção Renata Simões

Veja salas e horários de exibição

O Brasil não é o país do futuro. É um amontoado de urgências.

“Amanhã Chegou” nasce do ativismo político. Idem, por exemplo, “Chega de Fiu Fiu” na campanha contra o assédio sexual. Ambos partem do universo político e vão para o cinema.

Previsível na forma, didático no conteúdo. “Amanhã Chegou” fala sobre o consumo no século 21.

Anotem: atitudes concretas diante da escassez de recursos naturais. Como funciona o “capitalismo consciente”. Qual o papel do marketing. Novas técnicas para distribuir riquezas.

Entrevistados são ouvidos em sequência. Certas declarações destoam, como associar a geração dos anos 1980 e 90 ao início da venda de produtos por ídolos pop. A “It Girl” Clara Bow vendia creme para a cútis, na década de 1920.

A certa altura, diz-se que antigamente a educação era voltada para a cidadania. Em um país coalhado de ditaduras, soa ingênuo. Basta lembrar a figura nefasta do “Vovô Índio”, no Estado Novo. O hippismo dos 1970 foi bem mais ambientalista do que a educação oficial.

Até que, de repente, o documentário de Renata Simões quase encontra a redenção. Sem perceber, ele destrói o nosso narcismo.

Afinal, os brasileiros são abençoados e bonitos por natureza. Porém, o roteiro de Roberta Nadder e de Renata aposta no contrário. O tempo das maravilhas já acabou. Sem a capa de Peter Pan latino-americano, cabe ao país olhar-se no espelho. Mais do que isso: entender que existe o mundo lá fora.

O recado está claro com um terço do longa-metragem. Depois dele, a repetição de ideias deixa a estrada cansativa.

Não aparece ousadia estética. Ela acaba vencida pelo carisma dos entrevistados e pela fotografia (apenas correta) de Bruno Miranda, que aproveita o deslumbre dos cenários naturais. O conjunto do filme se assemelha a um programa para a televisão, ofício mais próximo da diretora, com larga trajetória no ramo.

Nesses momentos cabe lembrar de “Meow!” (1981), de Marcos Magalhães, ou de “Ilha das Flores” (1989), de Jorge Furtado. Através de linguagens peculiares, transmitiram mensagens políticas: terreno perigoso, que fica na esquina do proselitismo.

“Amanhã Chegou” deixa quieto o vulcão. Seria saudável ouvir a defesa do consumo, o outro lado da tese, por mais aberrante que fosse. Ou embalar o pacote em um formato mais ágil. No cômputo geral, segue uma linha tranquila, pouco sinuosa.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.