Rejeitado por Cannes, filme 'Roma' é um dos destaques da Mostra de São Paulo

Evento conta com mais de 300 filmes vindos de 58 países, entre 18 a 31 de outubro

Guilherme Genestreti
São Paulo

 A Mostra de São Paulo deste ano responderá a seu modo, com menos estardalhaço do que suas congêneres europeias, aos humores e gritos de ordem que têm mobilizado o cinema em 2018.
 
Feminismo, opressão política, identidade de gênero e avanço dos serviços de vídeos sob demanda são motes que norteiam, muitas vezes de forma indireta, a atual seleção do evento.
 
Mais importante festival cinematográfico da cidade, ela exibirá mais de 300 filmes vindos de 58 países de 18 a 31 de outubro. Sua programação foi anunciada neste sábado (6).
 
Entre os destaques mais vistosos, “Roma”, de Alfonso Cuarón, foi programado para encerrar o evento.
 
Como é uma produção da Netflix, a obra foi rejeitada por Cannes, que tem apoiado cadeias de cinema em guerra contra os serviços de streaming, e encontrou acolhida no Festival de Veneza, de onde saiu com o prêmio principal. Candidato fortíssimo ao Oscar, conta a história de uma empregada de origem indígena que trabalha num casarão de classe alta na Cidade do México dos anos 1970.
 
“O maior problema do cinema é a pirataria, e não o streaming”, disse Renata de Almeida, diretora da Mostra, defendendo a acolhida de um título que, após o evento, deve ir direto para a plataforma, sem passar pelas salas do circuito.
 
Além de “Roma”, o evento paulistano também programou os maiores vencedores deste ano dos festivais de Berlim (“Não me Toque”) e Cannes (“Assunto de Família”). O primeiro, da romena Adina Pintilie, é uma obra experimental sobre as relações entre corpos e sexualidades; o outro é um drama mais tradicional dirigido por Hirokazu Kore-Eda, sobre uma família japonesa empobrecida.

O cineasta nipônico, presença frequente nas edições da Mostra, receberá o Prêmio Humanidade, dedicado a personalidades que demonstrem preocupações sociais.
 
Colunista da Folha, o médico Drauzio Varella também será homenageado com esse mesmo prêmio. Ele é autor de livros que inspiraram o filme “Carandiru”, de Hector Babenco, e a série “Carcereiros”, é personagem de um curta-metragem de Bárbara Paz, na programação desta edição, e falará numa mesa.
 
A abertura da Mostra se dará com a exibição de “A Favorita”, obra de época sobre a rivalidade entre duas primas cortesãs que marca uma guinada na carreira do grego Yorgos Lanthimos, conhecido por obras mais violentas e menos convencionais do que essa.
 
Encarcerados em seus países, o russo Kirill Serebrennikov e o iraniano Jafar Panahi terão seus filmes mais recentes na programação, “Leto” e “3 Faces”, respectivamente. Ambos são notórios críticos aos regimes de suas nações, e o segundo é carregado de tônica feminista, o que incrementará a politização da próxima Mostra.
 
Entre os brasileiros, o evento terá sessões especiais com cópias restauradas de filmes hoje clássicos da produção nacional: “O Bandido da Luz Vermelha”, “O Bravo Guerreiro”, "Central do Brasil”, “Pixote” e “Feliz Ano Velho”.
 
Uma novidade neste ano será o Mercado de Ideias Audiovisuais, voltado a debates e negócios entre os profissionais do audiovisual.

 

Outros destaques

“Chalkroom”
Instalação em realidade virtual idealizada por Laurie Anderson permitirá que se “sobrevoe” entre palavras de uma sala de giz.
 
Bicentenário de Karl Marx
O pensamento do alemão reverbera na série “Oito Horas Não São um Dia”, de Fassbinder, e nos filmes “Marx Reloaded” e “Trabalhos Ocasionais de uma Escrava”
 
Sessões ao ar livre
No Masp haverá exibição de “As Canções”, de Eduardo Coutinho, “Ópera do Malandro”, de Ruy Guerra, e “Invictus”, de Clint Eastwood. Já no parque Ibirapuera haverá projeção do filme mudo “A Caixa de Pandora”, de Georg Wilhelm Pabst
 
Lars von Trier
O provocador dinamarquês terá seu mais recente, e controverso, “A Casa que Jack Construiu” na programação, além de três mais antigos, “Ondas do Destino”, “Europa” e “Elemento de um Crime”

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