O dramaturgo francês Jean-Luc Lagarce faz da melancolia e da resignação o eixo de “Eu Estava em Minha Casa e Esperava que a Chuva Chegasse”, escrita em 1994 e montada agora por Antunes Filho.
Logo de início sabemos do regresso de um filho outrora expulso de casa. Ao que tudo indica, mãe e irmãs viveram paralisadas numa longa espera desde a partida do menino. Mas o retorno tão ansiado não traz nada de novo, só mais ressentimento e mais angústia.
O texto é praticamente uma coleção de monólogos. São fluxos de reflexão subjetiva que veem os acontecimentos de forma contraditória, tornando impossível saber o que ocorreu naquela família. Tudo gira em falso. As personagens falam, mas não agem, não saem do lugar. A sensação é de uma repetição sem fim e de seres que vão apodrecendo.
A encenação de Antunes mergulha neste universo. Para dar conta da abstração e dos vazios do texto, o diretor ancora as falas em um ambiente concreto inventado por ele. Cria fragmentos de passado para as personagens, inventa gestos cheios de história. De modo que a lírica das palavras ganha dimensão teatral.
Apesar disso, a cena reforça a estagnação da peça. O cenário com dezenas de cadeiras desarranjadas parece projetar outro tempo, de multidão, alegria e esperança. Mas agora é somente ruína do que foi. Ali as velhas e as crianças reproduzem enigmáticos ritos cotidianos que parecem já ter perdido o seu significado.
A montagem apresenta um mundo estático, como a iluminação. Vemos um quadro que reitera a si mesmo, assim como a lírica circular do texto de Lagarce. Texto e cena dizem juntos: “A esperança é ilusória, não há superação à vista”.
Contudo, a paralisia também se impregna na teatralidade. O espetáculo se desenvolve penosamente. As cenas terminam sempre do mesmo modo que começam e vão se cristalizando em monotonia.
O rigor vocal das atrizes —antiga marca do trabalho de Antunes Filho— fica preso em inflexões pré-fabricadas. A técnica se sobrepõe ao presente da cena que vai, por sua vez, decaindo em mesmice.
O universo desencantado e repetitivo de Lagarce ganha um impulso teatral com a montagem de Antunes. Mas a força de cena logo perde vigor e se transforma em uma cansativa repetição sobre uma vida de falsas esperanças.
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