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Moda

Esnobadas, blogueiras ficam sem convite na temporada europeia de moda

Grifes de Londres, Milão e Paris rebaixam era dos likes e priorizam seus clientes

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Paris

Diferentemente de temporadas anteriores, quando grifes de luxo e estilistas tateavam formas de sair do buraco das vendas, o verão 2019 sagrou o que de melhor as marcas internacionais, menos afobadas devido à retomada dos mercados americano e asiático, podem oferecer.

Entre acertos, micos e boa costura, esta foi uma estação de moda, com menos “likes” e pose. Parece haver uma tentativa de peneirar o que realmente importa —roupas e ideias. E era só olhar para a plateia menos montada de blogueiras, celebridades e fashionistas de ocasião para sacar o tom de seriedade da maioria dos desfiles.

Nunca se viu tantas influenciadoras digitais nas ruas, inclusive um séquito de brasileiras. Foi ali que a maioria delas ficou. Dentro das salas de desfile, construídas em endereços históricos das três capitais da moda europeia, Londres, Milão e Paris, havia mais compradores, jornalistas e clientes.

Houve exceções, como a extravagância midiática proposta pela Dolce & Gabbana, com uma passarela de clientes e atrizes célebres; a Balmain e suas “referências” ao legado de Thierry Mugler; e a Céline, que teve a estreia mais achincalhada das últimas estações ao permitir que o novo estilista, Hedi Slimane, plagiasse a si mesmo no visual roqueirinho de butique cujos pretos, brilhos e visual skinny havia adotado anos atrás na Saint Laurent.

 

Duas das maiores popstars da atualidade deram o ar da graça em Paris, mas só o ar mesmo, porque tanto Lady Gaga, convidada da Céline, quanto Madonna, que veio acompanhar a estreia da peça escrita pelo amigo Jean Paul Gaultier, não deram bola para quem aguardava o close.

O “freak show” da moda, para citar o nome do espetáculo de Gaultier em cartaz na casa de shows Folies Bergère, ficou por conta das centenas de novos fotógrafos de “streetstyle” que saíram do armário de uma temporada para outra.

Cena de 'Fashion Freak Show', espetáculo criado pelo designer Jean-Paul Gaultier, em cartaz em Paris - Alain Jocard/AFP

Para se destacar da concorrência, um deles percorreu as três cidades segurando uma placa de papelão na qual se lia a vontade de “tirar uma foto sua se você curte moda por conta própria”. Depois do registro, aparentemente grátis, o gesto do dim-dim sinalizava que não há caridade nesse mundinho de aparências. É como se ele criasse uma nova modalidade do tipo de golpe “pega turista”, que agora pode ser chamado “pega blogueira”.

Ao que importa. A moda urbana de outrora, um sem-fim de tênis e moletom, foi esquecida. Deve demorar até as vitrines consolidarem a limpa geral dessas peças, mas começou agora a tentativa de recuperar o glamour dos vestidos bem cortados, como os da Valentino, melhor tesoura de festa desta temporada, e a praticidade dos trench coats, como os da Burberry, grife que permitiu a Londres receber o elogiado retorno do estilista Riccardo Tisci à passarela.

Não há odor de mofo dos clássicos do passado, porque Balenciaga, GucciHermèsDiorChanel e, principalmente, Prada, giraram o relógio para o futuro de olho em referências das diversas décadas do século 20.

A fórmula consiste numa confusão planejada de romantismo (laços, drapeados e formas fluidas), erotismo (comprimentos micro, pele aparente e transparências) e futurismo (metalizados, linhas tridimensionais e impressão 3D).

Tomando atrasada um trem para o novo século, a moda quer abolir velhas práticas, poses e recortes para desenhar um cenário de retomada criativa, pé no chão, usável e mais glamoroso do que um solado de borracha.

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