Descrição de chapéu

'Trem das Vidas' mostra o ser humano com suas belas singularidades

Experiente, diretor Paul Vecchiali atinge simplicidade cósmica aliada a discussão adulta

Sérgio Alpendre

Trem da Vida ou A Viagem de Angélique (Train de Vies ou les Voyages d'Angélique)

  • Quando Mostra: Sex. (26), às 21h40, no Cinearte Petrobras 2; seg. (29), às 15h15, no Itaú Frei Caneca; ter. (30), às 17h50, no Cinesesc; e qua. (31), às 15h, no MIS
  • Classificação Livre
  • Produção França, 2017
  • Direção Paul Vecchiali

No final dos anos 1960, o rescaldo criativo da nouvelle vague francesa deu ao mundo uma série de grandes diretores que radicalizaram, num primeiro momento, as conquistas estéticas da turma de Godard e Truffaut. São nomes como Philippe Garrel, Jean Eustache e Maurice Pialat.

Paul Vecchiali é o menos reconhecido deles, apesar de ser também inquieto. Nos últimos anos, conheceu certo sucesso de crítica —a Mostra de 2017 exibiu vários de seus longas.

"Trem das Vidas ou A Viagem de Angélique", seu longa mais recente, foi filmado simultaneamente com "Os 7 Desertores", sua homenagem aos filmes de guerra mais pacifistas.

Não chega ao nível do soberbo "É o Amor", o melhor de seus últimos trabalhos, nem de "Os 7 Desertores", uma surpresa mesmo para quem já conhecia bem a carreira do diretor. Mas contém uma série de pequenas invenções que mantém o cineasta como um dos melhores em atividade.

É um filme simples, curto, feito todo com conversas dentro de trens. Os vagões mudam, os atores e as atrizes também, as paisagens se diversificam, os anos passam, voltam, e o papo versa quase sempre sobre amor e desejo.

A atriz mais constante, que interpreta a protagonista Angélique, é a brilhante Astrid Adverbe. Já na primeira cena, ela dá um show de interpretação. Ficamos desde então conquistados por seu carisma. Os pequenos detalhes e gestos que ela explora a como se tivesse uns 40 anos de carreira.

Mais uma vez o diretor interpreta uma espécie de consciência da protagonista. Mas não há grandes implicações psicológicas. Temos apenas o ser humano com suas belas singularidades.

Somente um diretor experiente como Vecchiali poderia atingir essa simplicidade cósmica sem abrir mão de uma discussão adulta, em que os personagens se entregam em lembranças íntimas. Ao fim, viajamos com eles nesses trens todos, pelos diversos países, testemunhando desejos e frustrações.

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