Último dia de SPFW propõe praia para todos e marcha anticaretice

São Paulo

Antes da hecatombe econômica que dizimou investimentos, o desejo da direção da São Paulo Fashion Week era criar uma temporada masculina. Os consumidores, por sua vez, clamavam por uma passarela que fosse espelho das cores e dos corpos reais.

Nenhuma das duas ideias colou, mas na sexta-feira (26) derradeira desta edição, uma sequência de grifes para rapazes e uma moda praia inclusiva, sem apenas corpos esguios, deu um panorama da diversidade das etiquetas.

Logo em sua estreia no calendário, a grife Cacete Company abriu os olhos do público para a diversidade sexual. Muitas das roupas tinham viés esportivo —ou “athleisure” no jargão da moda.

Sexo foi um dos fios condutores da coleção de estampas que reproduzem posições e fetiches sexuais. Borrada na camiseta havia uma foto de dois homens praticando sexo oral. 

Enquanto a moda da Cacete pareceu ser uma resposta à escalada conservadora que domina o noticiário, o final do desfile de estreia da Piet soou como uma pedido de salvação, com uma fila de homens vestidos com coletes salva-vidas marchando pela passarela.

O estilista Pedro Andrade disse, minutos antes do desfile, não ter tido pretensão de se posicionar politicamente, mas deixou “aberta a interpretações” sua escolha, “um retrato do país em que vivemos”.

Na passarela do estreante havia roupas de design industrial, que devem agradar aos amantes do streetwear com suas jaquetas bomber, propostas listradas e, claro, tênis, que vêm com a etiqueta aparente.

Longe das tendências e mais atento à sua história, João Pimenta reformulou elementos do cristianismo, do punk e dos vaqueiros nordestinos, a santíssima trindade de sua moda, para aplicá-la em peças intercambiáveis. A alfaiataria clássica do estilista passou a assumir uma capa de cores, franjas de plástico e bordados.

Mais do que um tributo ao seu legado, a coleção responde à caretice que Pimenta crê que atingirá a moda nos próximos anos. Suas imagens de Iemanjá e Nossa Senhora Aparecida sovam como uma prece, um pedido de liberdade.

Um outro tipo de liberdade, a do corpo, permeou a passarela da Água de Coco, que botou também mulheres gordas e idosos para desfilar uma moda praia democrática e real. 

Estampas coloridas, fio dental e pele descoberta provaram à moda praia brasileira que é possível abraçar a diversidade sem recorrer aos tons e cortes sóbrios —uma maquiagem que esconde a realidade sob os panos.

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