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Álbum póstumo de Lil Peep traz à tona os demônios enfrentados pelo rapper

Drogas, depressão e relacionamentos protagonizam 'Come Over When You're Sober, Pt. 2'

Lil Peep em agosto de 2017

Lil Peep em agosto de 2017 Chad Batka/The New York Times

LUISA JUBILUT

Come Over When You're Sober, Pt. 2

  • Onde nas plataformas de streaming
  • Autor Lil Peep
  • Gravadora Columbia Records

Em novembro de 2017, a narrativa interrompida do rapper norte-americano Lil Peep não só mobilizou o público como trouxe à tona a necessidade de uma geração por um anti-herói vulnerável. 

A overdose fatal de Gustav Elijah Åhr, aos 21 anos, paralisou uma legião de fãs que atribuíam a ele o futuro de todo um gênero musical em ascensão: o emo rap. Agora, quase um ano depois de sua morte, a história de Lil Peep ganha mais um capítulo em “Come Over When You’re Sober, Pt. 2”, continuação póstuma de seu primeiro e único álbum.

O projeto, produzido por Smokeasac e George Astasio of IIVI, retoma o som do rapper exatamente de onde ele havia parado. 

Expoente do SoundCloud, Peep abraçava melodias imperfeitas, marcadas por ruídos, batidas de trap, guitarras melancólicas e samples de bandas como Death Cab For Cutie, Brand New e Modest Mouse. 

Ao fundo, um vocal com efeitos e letras explícitas sobre angústia, depressão, suicídio, abuso de substâncias e relacionamentos turbulentos.

A similaridade ao álbum de estreia fica clara logo durante as duas primeiras faixas de sua continuação, “My All & Broken Smile” e “Runaway”. Ambas abordam amor e uma persistente suspeita de falsidade e sabotagem. “Todos fingem que se importam”, ele canta. “Eu estava morrendo e ninguém estava lá.”

O paradoxo entre o medo de morrer sozinho e o vício em drogas encontra sua força total em “Cry Alone”, ponto mais alto e comovente do projeto. Nem a cocaína ou o “lean”, também conhecido como “purple drank”, são suficientes para abafar lembranças dolorosas sobre sua vida escolar e o ódio mútuo entre ele e todos de sua cidade. 

O passado traumático segue protagonista em “Leanin’”, que revela uma tentativa de suicídio fracassada, e “16 Lines”, na qual Peep afirma que está sozinho desde os nove anos.

A exaustiva negatividade só recua em “Hate Me”, quando o rapper favorece uma abordagem mais leve e se deixa conduzir por romantismo e uma batida mais dinâmica. 

O intervalo, contudo, dura pouco. Gustav retoma a narrativa sobre seu comportamento destrutivo em “White Girl” e “Fingers”, última faixa do disco, que atinge o ouvinte em cheio com sua mensagem final: “Eu não vou durar muito tempo”. O silêncio vem acompanhado de uma sensação de alívio, mas deixa no ar uma atmosfera tenebrosa.

Os demônios descritos em “Come Over When You’re Sober, Pt. 2” continuam soltos na indústria musical, assombrando outros nomes jovens e proeminentes do rap, como Mac Miller, morto em setembro deste ano aos 26 anos. 

Do outro lado, fãs seguem expressando a necessidade por mais artistas que falem sobre saúde mental, diminuam o estigma que cerca o assunto e façam com que eles se sintam menos sozinhos. Ao longo desta nova coletânea de inéditas, eles podem contar com Lil Peep, nem que seja por tempo limitado.

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