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Antônio Abujamra é revisto do rigor à provocação

Com curadoria de Márcia Abujamra, exposição em São Paulo repassa trajetória do ator e diretor em 200 fotos e vídeos

Exposição

Antônio Abujamra em cena de "O Casamento" (1997), encenação do seu grupo Os Fodidos Privilegiados Chico Lima/Divulgação

Maria Luísa Barsanelli
São Paulo

Antônio Abujamra não era figura das mais fáceis. Tinha fama de arisco, era provocador, falava palavrões sem parar. "Quando precisava chacoalhar as pessoas, ele chacoalhava", lembra a diretora e produtora Márcia Abujamra, sua sobrinha. "Mas, ao falarem sobre ele, é muito comum mencionarem a doçura. Ele de fato tocou muito as pessoas com quem trabalhou." 

As falas a que Márcia se refere são uma centena de depoimentos, de um minuto cada um, que ela colheu para "Rigor e Caos - Antônio Abujamra", mostra sobre o ator e diretor, com curadoria da sobrinha.

Em cinco salas do Sesc Ipiranga, a exposição reúne essencialmente material audiovisual, pouco mais de 200 fotos e vídeos que repassam a trajetória de Abujamra, do início da produção artística, em fins dos anos 1950, até a sua morte, há três anos.

São imagens de arquivo pessoal, acervos do diretor guardados na SP Escola de Teatro, em São Paulo, e materiais de emissoras de TV. Concentra-se em especial na carreira no teatro, sua arte por excelência.

Abujamra foi um dos primeiros a introduzir no Brasil dos anos 1960 métodos do teatro contemporâneo como os do alemão Bertolt Brecht e do francês Roger Planchon. 

Aprendera tudo numa passagem pelo Europa, quando estudou na França com uma bolsa adquirida com auxílio de João Cabral de Melo Neto —o poeta, que viria a influenciar toda a obra de Abujamra, o abrigou por 28 dias em sua casa em Marselha após o diretor ficar sem dinheiro numa viagem pelo norte africano.

"Rigor e Caos" reúne fotografias de espetáculos (dirigiu 120), programas de peças e vídeos. Um deles é uma edição com trechos de 36 produções, desde a primeira documentada, "Crimes Delicados" (1977).

Em outros espaços, mostra-se seus trabalhos no cinema e na televisão, nos quais experimentou bastante. "Ele dizia: 'Na televisão, eu abandonei o racional. A televisão é rascunho'", conta a curadora.

Uma sala, por exemplo, é dedicada a Provocações, programa de entrevistas que ele iniciou em 2000 na TV Cultura. A mostra resgata quadros como o Vozes da Rua, feito nos primórdios da emissão, quando Abujamra fazia perguntas existenciais a desconhecidos.

"É uma loucura o que ele fez, ele trabalhou muito", afirma Márcia. "Tem ano em que ele dirigiu três peças, além das coisas na TV e no cinema."

Alguns trabalhos, porém, ficaram de fora por falta de material. Caso de "Divino Maravilhoso", programa produzido por Abujamra em 1968, na TV Tupi, e que colocava em cena, sem roteiro prévio, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Gal Costa —que na época ainda usava o nome Maria da Graça.

"Caetano ficava numa jaula comendo banana. No terceiro programa, eles fizeram o enterro da tropicália. As críticas foram violentas e acabaram tirando do ar o programa e apagaram todas as fitas."

Márcia, porém, reuniu registros bastante sinceros do tio, que durante anos deixou de dar entrevistas —irritava-se com jornalistas— e só voltou a falar com a imprensa na década de 1980, quando se tornou ator. "Descobri entrevistas superinteressantes, em que ele está desarmado."

Mas é o tom provocador de Abujamra que guia a mostra. A cenografia de André Cortez reproduz o caos e o rigor do encenador, conhecido por criações geométricas no palco.

Espalhadas pelo chão e por painéis estão frases dele, que resumia seu sarcasmo e acidez em falas corriqueiras como "sem crueldade não há humor" ou "a vida é sua, estrague-a como quiser", esta emprestada da dramaturga inglesa Shelagh Delaney. Era pela provocação, afinal, que Abujamra nos guiava a refletir.

Rigor e Caos - Antônio Abujamra

  • Quando Abre qua. (28), às 20h. Ter. a sex., das 9h às 21h30, sáb., das 10h às 21h30, dom., das 10h às 18h30. Até 17/3/2019
  • Onde Sesc Ipiranga, r. Bom Pastor, 822
  • Preço Grátis
  • Classificação Livre
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