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Autor enfrentou epopeia semelhante à de seus personagens para lançar HQ

'Bone', série em 1.332 páginas do americano Jeff Smith, sai em edição brasileira

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São Paulo

As aventuras dos primos Fone Bone, Phoney Bone e Smiley Bone têm os mesmos contornos épicos da carreira de seu criador, o quadrinista americano Jeff Smith. 

O autor tinha apenas cinco anos em 1965 quando esboçou os personagens cartunescos que viriam a protagonizar as aventuras ambientadas em um universo de dragões, monstros, princesas e guerreiros de uma das obras mais premiadas da indústria de quadrinhos. 

“Bone” saiu originalmente entre 1991 e 2004, ao longo de 55 edições em preto e branco publicadas pela Cartoon Books, editora independente do próprio autor. Depois, entre 2005 e 2009, foi republicada em cores pela gigante norte-americana Scholastic Inc.

“Bone: O Vale ou Equinócio Vernal” tem 448 páginas e é o primeiro de três volumes publicados pela primeira vez na íntegra em versão colorida em português. A expectativa dos editores brasileiros é de que os dois volumes seguintes sejam lançados até o final de 2019, completando as 1.332 páginas da HQ. 

Trecho da HQ "Bone", de Jeff Smith, em edição da Todavia - Divulgação

Hoje aos 58 anos, dono de dez prêmios Eisner e 11 Harvey por seu trabalho em “Bone”, Smith lembra da insistência com seu trio de heróis até eles darem algum sucesso.

“Eu sabia que personagem de cartum tinha quatro dedos, nariz gigante e pé gigante, então desenhei assim e eles parecem ossinhos”, conta o artista sobre as suas concepções na infância. 

O autor diz que desde o começo estavam claras as personalidades distintas dos personagens, um sujeito normal, outro avarento e o terceiro pateta. O que veio depois foi a trama: expulso de Boneville por razões misteriosas, o trio acaba em um vale aparentemente idílico, mas com passado bélico e assombrado por forças malignas inquietas com a presença dos Bones.

Os três personagens de Smith ganharam sua primeira chance como tira do jornal da faculdade do autor, durante quatro anos. Estudante de artes plásticas, mas impactado por sua descoberta de obras de fantasia como “O Senhor dos Anéis” e “Star Wars”, ele buscou formas de encaixar os três heróis em um universo mais vasto e fantástico.

“Eu queria uma trama de verdade, e tramas têm fim. Quando eu inventei o final, consegui uma trama que virasse uma série em quadrinhos épica”, diz o autor. Influenciado por clássicos americanos como “Peanuts”, de Charles M. Schulz, e os quadrinhos de Pato Donald criados por Carl Barks, Smith precisou administrar seu enredo com o bom humor de seus personagens.

“Eu tinha o hábito ruim de fugir do meu roteiro quando surgia uma coisa engraçada. Humor é um ímã no meu caso”, afirma o quadrinista. 

Cinquenta e cinco edições depois, com a série já encerrada, “Bone” foi classificada pela revista Time como “a melhor graphic novel para todas as idades já publicada”. Esse alcance mais amplo da obra acabou sendo uma surpresa.

“Quando eu lancei ‘Bone’, havia pouquíssimas crianças comprando ou lendo revistas em quadrinhos nos EUA”, comenta o autor. “Isso mudou aos poucos. As graphic novels e o mangá ajudaram. Talvez eu nem devesse me surpreender, já que me esforcei para criar o gibi que eu queria ler quando criança! Hoje em dia, quando eu faço sessões de autógrafos, a fila tem adultos e crianças misturados”.

Já com seus vários troféus, Smith foi convidado a relançar a obra na íntegra por uma editora logo após o fim do projeto. Ele diz ter hesitado com a proposta e ido buscar conselho com o amigo e ídolo Art Spiegelman, autor de “Maus” —uma das HQs mais cultuadas e premiadas do planeta, que conta a história do pai do artista, sobrevivente de um campo de concentração nazista na Segunda Guerra.

“Foi o Art quem me incentivou a colorir”, conta Smith. “Quando eu perguntei por que —já que ‘Maus’, uma das inspirações para eu investir nos quadrinhos como minha arte, é em preto e branco— ele respondeu o seguinte: ‘Maus’ trata da guerra e devia ser em preto e branco, mas ‘Bone’ trata da vida e só vai estar finalizada quando estiver colorida’.”

Na avaliação do quadrinista, a leitura das coletâneas coloridas oferece uma nova perspectiva em relação ao seu trabalho. Ele acredita que os leitores das edições avulsas tiveram uma experiência seriada, de uma revista que saía mais ou menos a cada dois meses. 

Agora, os volumes maiores apresentam a textura e o ritmo da trama como um romance ou um filme. “Naquela época, a ideia de histórias mais compridas, ou graphic novels, ainda estava no início. Não sei se alguém notou que as aventuras dos Bone estavam se encaminhando para uma conclusão até chegarmos bem pertinho do final!”

Bone: O Vale ou Equinócio Vernal

  • Preço R$ 79,90 (448 págs.)
  • Autoria Jeff Smith
  • Editora Todavia
  • Tradução Érico Assis
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