Descrição de chapéu

Em SP, jazzista Herbie Hancock prova que ainda sabe hipnotizar o seu público

Pianista americano comanda noite para nenhum fã de jazz botar defeito no Credicard Hall

Thales de Menezes
São Paulo

Herbie Hancock afirma que sempre tenta fazer shows únicos, para que uma noite nunca seja igual a outra. No sábado (17), no paulistano Credicard Hall, o pianista americano de 78 anos surpreendeu novamente os admiradores, mesmo com um repertório de peças conhecidas.

O formato do show não poderia ser mais tradicional no jazz. Escolheu cinco temas e, em duas horas de espetáculo, trabalhou cada um com improvisos. Todos os números se estenderam por mais de 20 minutos, e a plateia que lotou a casa parecia totalmente convertida.

Os integrantes da banda jovem e afiada que o acompanhou deram a impressão de saber tocar aquelas músicas desde quando eram crianças. Um músico passava o bastão a outro, emendando solos curtos com muita naturalidade.

Quem entrasse na sala de concertos durante alguma das músicas poderia demorar muito a identificá-la. Dando atestado de sua ousadia sonora, Hancock desconstruiu algumas passagens de forma radical.

Às vezes, introduzia frases musicais de outras obras, suas ou de outros compositores, num intrincado e fascinante Frankenstein sonoro. O público urrou quando reconheceu nesses enxertos "Ponta de Areia", clássico de Milton Nascimento.

A apresentação reuniu material desde 1964, "Cantaloupe Island" (do álbum "Empyrean Isles"), até 1998, "Overture" (de "Gershwin's World"). No meio do caminho, duas pauladas de jazz funk: "Chameleon" (de "Head Hunters", 1973) e "Actual Proof" (de "Thrust", 1974).O cover de "Alone Together", de Chet Baker, deu chance a um solo arrepiante do vocalista Michael Mayo, 25. Na verdade, todos os acompanhantes tiveram espaço para brilhar.

O baterista Justin Brown, 34, e o baixista James Genus, 52, formam uma cozinha pulsante, um poderoso coração rítmico para a banda. O exímio gaitista suíço Grégoire Maret, 43, calou a boca de fãs que poderiam reclamar da ausência de um trompete ou um sax na formação.

Pilotando tudo, Hancock conversou com a plateia, fez piadas com os músicos e, em momentos de extremo virtuosismo, provou que consegue ser tão empolgante como era quando surgiu na cena do jazz, há quase 60 anos.

Essa liberdade conferida aos músicos no palco, com a chance de bons momentos individuais, parece fruto de um aprendizado valoroso que Hancock carrega na bagagem.

Ele foi integrante do segundo grande quinteto montado por Miles Davis (1926-1991), entre 1964 e 1968. O trompetista foi lembrado por todos que trabalharam com ele como um líder muito generoso com seus comandados.

Naquele mítico grupo, Davis e Hancock tinham companhia estelar: o baixista Ron Carter, 81, o saxofonista Wayne Shorter, 85, e o baterista Tony Williams (1945-1997).


Com toda essa experiência de música e de vida, Herbie Hancock promoveu uma noite dançante, emocionante, para nenhum fã de jazz botar defeito.

Herbie Hancock

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